"Eu te entendo, Migliaccio, porque eu, como você, sou do Teatro de Arena, com Paulo José, Chico de Assis, com o [Gianfrancesco] Guarnieri. Foi lá que aprendemos com o [Augusto] Boal que era preciso, era urgente que se pusesse o brasileiro em cena", assim começa por dizer Lima Duarte, num discurso emotivo em que recorda o falecido amigo, mostrando-se também desiludido com o rumo do seu país.
"[...] A alma brasileira, você foi um mestre. Você conseguiu colocar, e eu também. Colocamos em cena o homem brasileiro. Foi linda essa viagem", continuou.
Lima Duarte lembra ainda os momentos difíceis que enfrentaram durante a ditadura militar (1964-1985). "Agora, quando sentimos o hálito putrefato de 64, o bafio terrível de 68, agora, 56 anos depois, [...] quando eles promovem a devastação dos velhos, não podemos mais. Eu não tive a coragem que você teve", salienta.
Muito emocionado, o ator termina o vídeo citando uma fala da personagem Pedro Jáqueras, na peça 'Os Fuzis da Senhora Carrar', de Bertolt Brecht: "Os que lavam as mãos, fazem-no numa bacia de sangue".
Flávio Migliaccio decidiu colocar termo à vida aos 85 anos. O ator estaria com uma depressão profunda desde o ano passado, como relata a imprensa brasileira.