Júlio Magalhães vive uma fase particularmente feliz da sua carreira enquanto jornalista. Foi o próprio quem confessou isso mesmo numa entrevista ao Fama ao Minuto, que teve como foco o seu mais recente livro 'Quando Voltámos a Acreditar no Amor'.
A obra, o seu quinto romance, reforça o interesse que tem pela Guerra Colonial, tema central dos dois livros anteriores. Onze anos depois, afastado de funções ligadas à coordenação de uma redação, Júlio encontrou o tempo que precisava para se dedicar novamente à escrita.
A conversa, já perto do fim, abordou o que têm sido os últimos meses na CNN e na TVI, universo que bem conhece e que o faz sentir que este é "provavelmente um dos melhores momentos" da sua longa e notável carreira.
Importa sublinhar, no entanto, que a conversa que irá ler aconteceu antes de Júlio Magalhães ter aceitado conduzir o 'TVI Jornal', de segunda a quinta-feira.
O 'Quando Voltámos a Acreditar no Amor' pode ser entendido como uma continuação dos seus antecessores?
Não escrevia há 11 anos. Faltava ter a perspetiva de outros protagonistas da guerra, que também viveram esse momento. O livro conta a história de um fotógrafo de Salazar, de uma enfermeira paraquedista e de um cantor popular (porque nas guerras eram enviados grandes artistas para animarem os militares). Não é uma continuação, mas são outras histórias do mesmo período de tempo e sobre este mesmo tema, que é a Guerra Colonial.
Por que motivo a Guerra Colonial o fascina tanto?
O motivo é, sobretudo, concentrado em Angola, onde vivi até aos 13 anos. Acabei, como tantos milhares de pessoas, por ser vítima de uma descolonização e viemos todos embora. Os meus livros são grandes reportagens jornalísticas, ainda que romanceadas. Quero que tenham histórias verídicas e factos verdadeiros para que as pessoas fiquem a conhecer alguns dos momentos e das histórias que marcaram o país. Depois há a parte do romance. É um tema que me fascina porque vivi aquele momento, a minha família e amigos também, e faltava encerrar-me este capítulo. Fica por aqui o tema da guerra.
Sou jornalista, não sou escritor. Sou um jornalista que escreve livros.
E onde encontrou estas histórias em concreto que nos conta agora neste livro?
Através de várias pessoas que conheço. O primeiro livro foi pensado numa conversa com uma hospedeira da TAP. Fiz uma viagem ao Brasil e fui muito tempo na parte de trás do avião, de pé, porque tenho as pernas compridas e custa-me ir sentado muito tempo. A hospedeira esteve a contar-me o que foi a ponte aérea entre Luanda e Lisboa a seguir ao 25 de Abril. O segundo livro foi um tio de um amigo meu que viveu a Guerra Colonial e que esteve lá, que foi dado como morto e que conseguiu fugir... e o terceiro tem que ver com histórias que vi e ouvi, de gente que as viveu. O romance é fictício e o livro acaba por ser, de alguma maneira, de ficção, daí ser um romance histórico.
Para si só faz sentido escrever se não deixar de lado o jornalismo?
Sim, sou jornalista, não sou escritor. Sou um jornalista que escreve livros. Um jornalista é, sobretudo, um contador de histórias. Não quero abandonar essa vertente. No dia em que abandonar a minha profissão e disser 'agora vou dedicar-me aos livros e vou ser apenas escritor', então aí é outra coisa, será outra opção de vida. Para já, esta é a continuidade natural de quem é jornalista.
Não lançava um livro há 11 anos. Isso deve-se ao facto de estar numa fase mais tranquila?
Continuo a estar muito ocupado. Faço rádio das 7h às 10h e estou na CNN das 16h às 22h, mas hoje não tenho o peso da responsabilidade que tinha enquanto diretor. Durante estes 11 anos, fui diretor na TVI e, depois, no Porto Canal. Ter a responsabilidade de gerir uma estrutura fazia com que escrever fosse um desgaste muito grande e no tempo em que podia escrever livros não me apetecia fazê-lo. Hoje, não tenho essa carga, sou colaborador e faço o meu trabalho, não tendo que gerir pessoas nem gerir problemas todos os dias. É uma fase muito mais tranquila e muito boa, devo dizer.
Este é, provavelmente, um dos melhores momentos da minha carreira.É correto dizer que se sente-se hoje mais jornalista do que nessa altura em que tinha cargos de coordenação?
Sim, sem dúvida. Ser diretor é abdicar da profissão de jornalista, aquilo não deixa espaço para muito mais. Ser diretor é tratar de tudo e isso não deixa margem para a atividade jornalística. Hoje, sinto-me um verdadeiro jornalista a trabalhar em dois órgãos que me permitem sê-lo verdadeiramente.
E o regresso a uma casa que bem conhece, como tem sido?
Extraordinário. Estou num projeto que é diferente de todos aqueles em que trabalhei em televisão. Tenho um jornal que me permite ter uma visão do jornalismo diferente. Preocupamo-nos com as audiências mas não é só isso que interessa. É gratificante chegar a esta altura e ter tido a oportunidade de fazer um jornal destes, que não sofre a pressão de um grande canal como a TVI. Tem-me sabido muito bem e tem-me dado uma satisfação muito grande trabalhar na CNN.
É uma fase particularmente feliz da carreira?
Sem dúvida. Tanto na CNN, como na rádio. Este é, provavelmente, um dos melhores momentos da minha carreira
O tema da guerra ficou para trás, é a única certeza que tenho. Acredito que não será preciso esperar mais 11 anos pelo próximo livro...
Não, agora não faço questão de ser diretor de mais alguma coisa. Não quer dizer que não venha a ser, mas não está no meu horizonte, já tive a minha dose. Nesta fase da minha carreira espero manter o que tenho e continuar a escrever livros.
Afastada a temática da guerra, o que gostava de explorar agora?
Ainda não pensei nisso, mas o tema da guerra ficou para trás, é a única certeza que tenho. A partir de setembro começarei a pensar no próximo livro, mas não faltam histórias na nossa vida para contar e que não têm, necessariamente, que ver com a guerra...
E o Júlio já se cruzou com muitas histórias...
Sim, são sempre um motivo de inspiração.
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