A diarreia do viajante está associada, sobretudo, a culturas gastronómicas e técnicas culinárias diferentes das nossas e especialmente com condições sanitárias e de higiene menos rigorosas na manipulação e preparação dos alimentos.
Segundo Vitória Rodrigues, microbiologista clínica do grupo SYNLAB, “esta é uma infeção intestinal que altera temporariamente e desequilibra a microbiota intestinal, um conjunto de microrganismos que coloniza o nosso intestino e que tem um papel fundamental na nossa saúde e no nosso bem-estar, protegendo-nos de infeções. A diarreia do viajante ocorre quando as pessoas são expostas a bactérias ou, com menor frequência, a vírus ou parasitas contra os quais não desenvolveram imunidade porque nunca tiveram contato com eles. Por isso as pessoas originárias de países mais desenvolvidos têm um risco mais elevado".
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o risco de contrair diarreia do viajante é mais elevado nos países ou locais em vias de desenvolvimento: Ásia, Médio Oriente, África, América Latina são os destinos onde a probabilidade de ter este problema é maior. Por sua vez, Europa de Leste, Europa do Sul e algumas ilhas das Caraíbas são países onde o risco é moderado, sendo também necessário ter alguma precaução. Pode ocorrer mesmo no nosso país.
Os sintomas começam geralmente de forma súbita, com aumento da frequência de idas à casa de banho (com fezes líquidas, por vezes, com sangue e/ou acompanhadas de febre) acompanhadas de cólicas abdominais, náuseas e vómitos. O maior risco associado a este problema de saúde é a desidratação em particular, nos grupos mais vulneráveis como crianças, grávidas, idosos e doentes crónicos.
A maior parte dos casos de diarreia do viajante não são graves e os sintomas desaparecem num curto espaço de tempo (3 a 5 dias), sem ser necessário tratamento. No entanto, devem ser realizados exames laboratoriais ao sangue e às fezes nos casos de diarreia persistente ou aguda acompanhada de febre e/ou fezes com sangue e ainda em indivíduos mais suscetíveis ou que estiveram numa região geográfica onde se verificou a presença de cólera. “Os exames laboratoriais permitem a identificação do agente infetante conduzindo ao tratamento específico e dirigido, ao mesmo tempo que permitem identificar os agentes infeciosos circulantes em determinado local e ainda a presença de surtos”, afirma a especialista Vitória Rodrigues.
Para prevenir este tipo de situações são necessários cuidados de higiene pessoal, que passam por lavar as mãos antes de comer e numa seleção e escolha de certos tipos de bebidas e alimentos, bem como os locais onde vamos comer: “Prevenir significa nem sempre comer quando, onde e o que se quer. Mesmo os viajantes que evitam beber a água local podem-se infetar ao escovar os dentes com a água da torneira, sendo recomendado utilizar água engarrafada para esse efeito. Colocar gelo feito com água local em qualquer bebida, ou ingerir alimentos crus, manuseados incorretamente ou lavados com a água local também constitui um risco".