Em declarações à Lusa, Luísa Pereira, investigadora do i3S, avançou esta segunda-feira que o objetivo do projeto, desenvolvido no âmbito da linha de financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) 'RESEARCH 4 COVID-19', é "juntar a informação molecular do genoma do vírus aos dados epidemiológicos e clínicos dos infetados".
"Como o Norte começou por ser a primeira região infetada no país, no início foi fácil seguir as cadeias de transmissão, só que depois a transmissão começou a ser comunitária, o que se tornou num esforço impossível", referiu a investigadora, que integra a equipa liderada por Verónica Fernandes do i3S.
Nesse sentido, o projeto, que envolve uma equipa multidisciplinar de clínicos do Centro Hospitalar Universitário de São João e do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), vai sequenciar o genoma do vírus com base em amostras de 240 infetados.
Com o propósito de estudar a evolução do novo coronavírus (SARS-CoV-2), os investigadores vão tentar perceber as diferentes cadeias de transmissão e as mutações que, ao longo do tempo, o novo coronavírus foi acumulando.
"Vamos fazer análises filogenéticas, estudar a evolução do vírus e ver de que modo é que ele foi transmitido ao longo do tempo, entre as várias pessoas, bem como os diferentes ciclos da cadeia e quantas mutações é que ele foi acumulando", explicou, adiantando que a equipa vai também comparar os dados com genomas "de todo o mundo que vão ficando disponíveis".
Esta junção de dados permitirá "perceber qual a estirpe do vírus que está em transmissão na região Norte do país, o que pode ser muito importante quando tivermos, no futuro, vacinas".
"Estas vacinas estão a ser desenvolvidas em várias partes do mundo com base no vírus que estão a circular e, podem existir vacinas que são mais efetivas para algumas estirpes do que para outras", avançou Luísa Pereira.
Paralelamente, a equipa de investigadores vai também estudar a "taxa de mutação do vírus", uma vez que, esta variação pode também ter implicações na futura vacina.
"Se a mutação for de evolução muito rápido é necessária uma vacina todos os anos, como a da gripe A, no entanto, se for de taxa de mutação mais lenta, a vacina poderá ser, por exemplo, de 10 em 10 anos, como é a do Tétano", exemplificou.
Além disso, os investigadores vão também, com base nos dados clínicos e tendo em conta alguns fatores como a idade, perceber se a manifestação de sintomas está relacionada com a presença de determinada estirpe.
"Nós sabemos que há pessoas que parecem ter sido mais eficientes a transmitir o vírus a mais pessoas do que outras e também queremos estudar isso", concluiu.
Com um financiamento de 30 mil euros, este é um dos 66 projetos apoiados pela linha de financiamento 'RESEARCH 4 COVID-19', que visa responder às necessidades do Serviço Nacional de Saúde.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 204 mil mortos e infetou mais de 2,9 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Portugal contabiliza 903 mortos associados à Covid-19 em 23.864 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.