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A grande invasão. Entenda como a Covid-19 ataca o cérebro

"Ainda não sabemos se a encefalopatia é mais grave com a Covid-19 do que com outros vírus, mas posso dizer que temos visto bastante disso", afirma a neurologista Elissa Fory, da Fundação Henry Ford, nos Estados Unidos.

A grande invasão. Entenda como a Covid-19 ataca o cérebro
Notícias ao Minuto

11:49 - 02/07/20 por Liliana Lopes Monteiro

Lifestyle Danos neurológicos

A médica Julie Helms, conta à BBC News que para ela tudo começou com alguns doentes internados nos cuidados intensivos no Hospital Universitário de Estrasburgo, em França, no início de março

Subitamente e numa questão de dias, todos os internados nessa unidade foram diagnosticados com Covid-19. E para surpresa dos médicos e enfermeiros os problemas respiratórios eram somente um dos motivos de preocupação. 

"Estavam extremamente agitados e muitos tinham problemas neurológicos, principalmente confusão e delírio", explica. 

"Estamos acostumados a ter alguns pacientes assim nos cuidados intensivos, que necessitam de sedação, mas isso foi completamente anormal. Foi muito assustador, especialmente porque muitos eram muito jovens, com 30 a 40 anos ou até mesmo com 18 anos de idade". 

Consequentemente, Helms e os seus colegas publicaram uma pesquisa no New England Journal of Medicine na qual divulgaram os sintomas neurológicos em doentes com Covid-19, que iam desde de dificuldades cognitivas 'simples' a confusão mental.

Os especialistas apontam que todos estes elementos são sinais inequívocos de encefalopatia, ou seja, de danos no cérebro.

Sendo que investigadores da cidade de Wuhan, na China, local onde a pandemia teve origem, já haviam notado e alertado sobre esses sintomas em fevereiro em indivíduos infetados com o novo coronavírus SARS-CoV-2. 

E agora, mais de 300 estudos realizados por cientistas um pouco por todo o mundo apuraram que existe sim uma predominância de irregularidades neurológicas em doentes com Covid-19, incluindo sintomas leves, tais como: dores de cabeça, perda de olfato (anosmia) e sensações de formigueiro; e graves, como afasia (incapacidade de falar), convulsões e derrames. 

"Ainda não sabemos se a encefalopatia é mais grave com a Covid-19 do que com outros vírus, mas posso dizer que temos visto bastante disso", afirma também à BBC a neurologista Elissa Fory, da Fundação Henry Ford, nos Estados Unidos.

Acrescentando: "à medida que o número de casos aumenta, começaremos a ver não apenas as manifestações comuns da doença, mas também as incomuns — e vêmo-las de uma vez só, o que não é algo com que qualquer um de nós se deparou nas nossas vidas". 

Segundo os cientistas, as estatísticas concretas da incidência variam, mas estimam que cerca de 50% dos pacientes infetados pelo novo coronavírus, padeceram de complicações neurológicas.

Para Robert Stevens, professor de anestesiologia e medicina intensiva na Faculdade de Medicina Johns Hopkins, nos EUA: "de facto, há uma percentagem significativa de pacientes com Covid-19 cujo único sintoma é confusão mental", acrescentando que não sofrem, por exemplo, de tosse ou fadiga.

"Estamos perante uma pandemia secundária de doenças neurológicas", conclui o especialista. 

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