O novo estudo publicado no Science Advances, e divulgado na revista Galileu, aumenta assim o entendimento sobre a patologia degenerativa do cérebro e pode contribuir para a criação de tratamentos personalizados e mais eficazes.
Segundo os investigadores, o Alzheimer pode ter manifestações biológicas e patológicas bastante díspares nos doentes. Exemplificando, se por um lado em determinados indivíduos o deterioramento cerebral é moroso, por outro lado, noutros é significativamente célere. Entretanto, enquanto uns têm perda acentuada de memória e são incapazes de adquirir novos conhecimentos, outros não apresentam esses sintomas. E existem ainda doentes que sofrem de psicose e/ou depressão associada à patologia.
"Essas diferenças sugerem fortemente que existem subtipos de DA [doença de Alzheimer] com diferentes fatores biológicos e moleculares que impulsionam a progressão da doença", conta Bin Zhang, líder do estudo, num comunicado emitido à imprensa.
A análise foi realizada tendo como base dados de sequenciamento de RNA. Uma molécula similar ao ADN que codifica as instruções para a produção de proteínas.
Conforme explica a Galileu, de modo a detetar os subtipos moleculares do Alzheimer, os investigadores utilizaram um modelo computacional para identificar conexões entre as variedades distintas de RNA, as características clínicas e patológicas e outros fatores biológicos que possivelmente exponenciam a evolução e agravamento da doença. Os cientistas tiveram em conta os dados de sequenciamento de mais de 1.500 amostras de cinco zonas do cérebro de centenas de pacientes que morreram com e sem a demência.
Foram, então, detetados os três principais subtipos moleculares da doença que revelaram ser independentes da faixa etária e do estágio da condição. Sendo que esses subtipos correspondem a combinações distintas de várias vias biológicas desequilibradas que estimulam a degeneração cerebral.
O intrincado neurofibrilar de tau e a placa beta-amiloide, duas marcas neuropatológicas do Alzheimer, apresentavam, por exemplo, valores significativamente mais elevados somente em alguns tipos da condição.
De acordo com os investigadores, mais de 50% dos cérebros analisados não demonstraram uma subida da resposta imunológica, comparativamente a cérebros saudáveis. Tendo a análise registado a existência de condutores moleculares específicos do subtipo na evolução do Alzheimer nas amostras.
Mais ainda, explica a Galileu, a pesquisa detetou a correspondência entre essas versões da patologia com modelos animais utilizados em estudos. O que segundo os especialistas, pode explicar em parte porque é que a vasta maioria dos fármacos bem sucedidos em certos modelos de camundongos falhou em testes realizados em seres humanos.
"Essas descobertas estabelecem uma base para determinar biomarcadores mais eficazes para a previsão precoce da DA, estudar os mecanismos causais do Alzheimer, desenvolver terapias de próxima geração para a doença e projetar ensaios clínicos mais eficazes e direcionados, levando à medicina de precisão para a DA", acrescentou Zhang.