"Infelizmente, este estudo revela que cerca de 19% das pessoas com mais de 65 anos nunca desenvolve esta proteção imunológica. Pelo contrário, somente 2,1% das pessoas com menos de 65 anos tem ausência de imunidade neutralizante. Estes números são preocupantes porque temos de encontrar essas pessoas e protegê-las de uma nova infeção", partilha João Gonçalves, investigador principal deste estudo e Diretor do Instituto de Investigação do Medicamento, num comunicado enviado às redações.
A pesquisa portuguesa está atualmente a acompanhar 1500 pessoas entre os 20 e os 90 anos, durante um período de 12 meses.
Apesar do decréscimo detetado, os investigadores apontam que os anticorpos neutralizantes presentes em pessoas de todas as faixas etárias atuam igualmente contra as novas variantes do coronavírus, nomeadamente a Alfa e a Delta e em menor grau contra as estirpes Beta e Gama.
Mais ainda, o comunicado destaca que os vacinados parecem produzir anticorpos que reconhecem outros coronavírus endémicos.
"Quando testámos amostras de sangue dos participantes colhidas cerca de quatro meses depois do início da vacinação, o nível médio de inibição foi 80% nas pessoas com menos de 65 anos e 60% nos maiores de 65 anos, indicando uma produção elevada de anticorpos neutralizantes, mas sempre menor nos mais seniores. Os anticorpos vão afinando a sua qualidade neutralizante ao longo do primeiros 3-4 meses diminuindo naturalmente a sua quantidade a partir dessa altura. Devíamos avaliar nas populações mais vulneráveis os anticorpos neutralizantes antivirais, ou seja, a qualidade, e não a quantidade total de anticorpos que não nos diz muito sobre a proteção imunitária", explica João Goncalves.
O estudo da Universidade de Lisboa, sugere assim que os indivíduos com menos de 65 anos que tomaram a vacina mantêm durante mais tempo os anticorpos neutralizantes. Já entre os maiores de 65 anos, a redução destes anticorpos é mais acentuada - não parecendo haver diferenças entre homens e mulheres.
Adicionalmente, e de acordo com os cientistas, um número diminuto de reinfeções causadas pela variante Delta em pessoas totalmente inoculadas terá levado ao aumento da quantidade de anticorpos no organismo dos pacientes.
Uma descoberta, que conforme explica o estudo, parece indicar que a terceira dose pode ser uma estratégia para aumentar a quantidade dos anticorpos sobretudo em indivíduos com baixa imunidade.
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