A dor crónica é muito frequente, atinge na Europa um em cada cinco adultos e, a nível nacional, segundo a Associação Portuguesa para o Estudo da Dor, 31% da população.
As pessoas com dor crónica beneficiam de uma abordagem multidisciplinar, ou seja, desenvolvida por uma equipa de médicos diferentes, não só pela complexidade dos fatores envolvidos no desenvolvimento da dor, mas por todas as comorbilidades associadas. A Psiquiatria é uma das especialidades que deve ser incluída nessa equipa.
Para maior entendimento dessa necessidade, segue-se a relação resumida entre algumas patologias psiquiátricas e a dor crónica.
Insónia
As perturbações de sono e a dor têm uma relação bidirecional: se por um lado, as pessoas com dor crónica têm mais dificuldade em dormir, não dormir bem associa-se a aumento da intensidade da dor, assim como com a incidência de novas condições associadas a dor crónica.
Dra. Catarina Jesus© DR
Depressão
A dor crónica associa-se a um aumento de risco de depressão duas a cinco vezes superior ao risco da população em geral. No entanto, as pessoas com dor crónica podem resistir em procurar ajuda neste contexto, podendo isso acontecer porque sentem receio de que o seu sofrimento devido à dor não seja reconhecido ou que as suas queixas físicas passem a ser desvalorizadas.
Por outro lado, a depressão já foi associada ao agravamento da severidade da dor em até 72%, pelo que a negligência de qualquer uma destas condições acabará por interferir com a outra e, no limite, com o bem-estar e a saúde de quem padece de ambas as patologias.
Perturbações de ansiedade
As pessoas com dor crónica sofrem mais frequentemente de perturbações de ansiedade do que de depressão. Apesar disso, ambas as perturbações psiquiátricas coexistem com frequência e, nesses casos, o quadro psiquiátrico deve ser abordado na sua complexidade.
Disfunções Sexuais
As disfunções sexuais interferem com a capacidade de uma pessoa de responder a um estímulo sexual ou de sentir prazer. As disfunções sexuais são frequentes nas pessoas com dor crónica, com estudos a apontar para uma prevalência entre 73% e 81% e cerca de 36% a 40% das pessoas cessa completamente a sua atividade sexual.
Para quem vive com dor crónica, a sexualidade nem sempre é uma prioridade, no entanto, viver uma sexualidade satisfatória correlaciona-se com melhoria do estado geral de saúde, melhoria da qualidade do sono, da imagem corporal, da auto-estima e do relacionamento com terceiros. Segundo alguns estudos, parece existir a possibilidade de melhoria do controlo da dor e mesmo potencial para que ocorra diminuição da intensidade da dor.
Apesar da evidência existente sobre a relação entre doença mental e dor crónica, a frequência do diagnóstico e do tratamento das patologias do foro psiquiátrico no contexto da dor encontra-se muito abaixo do desejado.
É fundamental reconhecer e valorizar esta relação de patologias, procurar discutir o tema junto dos profissionais de saúde, para que o futuro aponte para uma abordagem verdadeiramente multidisciplinar dos problemas de saúde e, consequentemente, para uma melhor qualidade de vida dos doentes.