"Taxa de cura nas leucemias linfoblásticas agudas das crianças é de 90%"

Em setembro, assinala-se o Mês de Consciencialização para o Cancro do Sangue. Como tal, o Lifestyle ao Minuto falou com Manuel Abecasis, presidente da Associação Portuguesa Contra a Leucemia.

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Ana Rita Rebelo
28/09/2022 08:03 ‧ 28/09/2022 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle

Entrevista

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, relativos a 2018, foram diagnosticados cerca de 18 milhões de novos casos de cancro, a nível global. Desses, 10% representam cancros de sangue.  Ainda assim, continuam a ser pouco conhecidos. Com sinais de alerta pouco específicos e, por vezes, 'silenciosos', como a perda de peso sem causa aparente, existem às centenas e as causas são desconhecidas na maioria dos casos.

No entanto, "há situações com nexo de causalidade", aponta ao Lifestyle ao Minuto Manuel Abecasis, presidente da Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL), referindo-se a "leucemias que surgem em pessoas expostas a radiações nucleares", como  os sobreviventes das bombas atómicas de Hiroshima, por exemplo.

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O que são cancros do sangue?

São doenças oncológicas que resultam de alterações nas células que compõem o sangue.

Causas são desconhecidas na maioria dos casos. No entanto, há situações com nexo de causalidade. Veja-se as leucemias que surgem em pessoas expostas a radiações nucleares 

Porém, existem vários tipos e todos eles têm características diferentes.

Há centenas de variantes de cancros do sangue, sendo que, para efeitos de classificação, podem ser divididos em vários grupos: leucemias que envolvem os glóbulos brancos ou leucócitos, linfomas que envolvem os linfócitos, mieloma e outras doenças envolvendo as células plasmociticas. No grupo das leucemias há a considerar as agudas e as crónicas, com evoluções diferentes, conforme o nome indica. Nos linfomas há os indolentes, de progressão lenta, e os de alto grau, de grande agressividade, sendo que entre estes dois grupos há todo um conjunto de entidades de comportamento variável. Ao todo, são conhecidas mais de 60 variantes de linfomas. Nas doenças plasmociticas, o mieloma múltiplo é a mais frequente. É, aliás, a segunda neoplasia do sangue mais frequente. Também neste grupo há doenças indolentes e outras de rápida evolução.

São conhecidas as causas?

As causas são desconhecidas na maioria dos casos. No entanto, há situações com nexo de causalidade. Veja-se as leucemias que surgem em pessoas expostas a radiações nucleares (Hiroshima, Nagasaki, Chernobyl, Fukushima, e outros acidentes menores), tratamentos prévios com quimioterapia e/ou radiações (por exemplo, doentes com cancro da mama que têm uma leucemia alguns anos mais tarde), situações genéticas que predispõem ao aparecimento de leucemias, infeções virais (o vírus da hepatite C em alguns linfomas, por exemplo) e poluição ambiental.

O que é que acontece exatamente no organismo?

Em geral, as defesas do organismo diminuem, resultando na facilidade em fazer infeções, pode haver compressão de órgãos pelo aumento de volume dos gânglios ou do baço, e o funcionamento da medula óssea fica comprometido, podendo resultar em alteração dos leucócitos, glóbulos vermelho e plaquetas.

E qual a fatia da população mais afetada?

Como acontece com todas as doenças oncológicas, a incidência aumenta com a idade.

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Não sendo possível prevenir a doença, quais os sintomas e sinais de alerta a que devemos estar atentos?

Febre persistente, suor excessivo, nódoas negras ou equimoses, hemorragias, perda de peso, infeções persistentes, nódulos que aumentam de volume (gânglios linfáticos aumentados), dores ósseas, cansaço fácil e falta de apetite.

O diagnóstico precoce faz diferença no combate à doença?

Pode fazer, consoante o tipo de doença. Nas situações agudas ou agressivas, o diagnóstico precoce permite a rápida instituição do tratamento, o que é importante.

Taxa de cura nas leucemias linfoblásticas agudas das crianças é de 90%

Quais são os tratamentos disponíveis?

Depende do tipo de cancro diagnosticado, mas pode ser quimioterapia, radioterapia e imunoterapia.

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E qual a taxa de cura?

É muito variável consoante as situações. Taxa de cura nas leucemias linfoblásticas agudas das crianças é de 90%, nos linfomas de alto grau de 60%, nas leucemias mieloblásticas agudas dos doentes idosos entre 10 a 20%.

Existem, no entanto, tipos de cancro de sangue em que não existe cura.

Sim. É o caso dos mielomas.

Existem quantos casos de cancro do sangue diagnosticados no mundo? 

Em 2018, foram diagnosticados em todo o mundo cerca de 18 milhões de novos casos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Desses, cerca de 10% são cancros do sangue. 

No entanto, é fundamental lembrar que o diagnóstico de um cancro do sangue não é uma sentença e que nunca houve tantas evoluções no tratamento como hoje. 

Sim. O aparecimento de novas técnicas imagiológicas (PET scan, RMN) permitiram avaliar melhor a localização e extensão da doença, bem como as biopsias dirigidas por TAC ou ecografia menos invasivas, facilitando o diagnóstico em localizações menos acessíveis. No tratamento, de sublinhar que os grandes avanços são fruto do conhecimento molecular dos mecanismos da doença e mecanismos do sistema imunitário do doente como arma potencialmente estimulada no combate à doença.

Enquanto presidente da APCL, quais são as conquistas mais importantes em prol dos doentes com cancros do sangue?

Novos tratamentos, novos meios de diagnóstico, a melhoria dos apoios sociais disponibilizados aos doentes e o reconhecimento da figura do cuidador. Por parte da APCL, todo um conjunto de apoios económicos, a realização de 'webinars' para aumentar a literacia dos doentes e familiares, bem como a casa de acolhimento Porto Seguro, que esperamos que seja inaugurada ainda este ano e que vai permitir dar alojamento a doentes e cuidadores que residem longe de Lisboa. De destacar ainda o apoio à investigação nesta área, através de parcerias com a Sociedade Portuguesa de Hematologia e a indústria farmacêutica.

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