Classificada de interesse pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a EG.5 (ou Éris, como também é conhecida), uma variante descendente da Ómicron do Sars-CoV-2, está a provocar novos casos de Covid-19, após meses de taxas de infeção muito baixas, e pode mesmo "tornar-se dominante em alguns países ou mesmo no mundo". Por essa razão, António Morais, presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), admite ao Lifestyle ao Minuto, que possam "vir a existir reinfeções, como já aconteceu nas últimas variantes que predominaram".
A variante Éris foi comunicada pela primeira vez à OMS em fevereiro deste ano. Meses depois, a 19 de julho, foi designada como variante sob monitorização. Esta estirpe contém uma mutação adicional no aminoácido F456L na proteína da espícula do SARS-CoV-2, a porta de entrada do coronavírus nas células humanas.
O presidente da SPP pede à população que reforce a vigilância a quaisquer sintomas da doença, como febre, tosse ou dispneia. Lembrando que doentes recuperados podem voltar a ter testes positivos, afirma que "a primeira medida é colocar uma máscara na tentativa de diminuir a probabilidade de transmissão a terceiros". "Em caso de sintomas relevantes ou persistentes, deverá ser procurada avaliação médica", acrescenta. Todavia, António Morais descarta, para já, o regresso do uso obrigatório de máscara.
António Morais, presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia© António Morais
O que se sabe sobre a variante Éris? É mais infeciosa face às anteriores?
Na evolução do vírus ocorrem mutações que levam a novas variantes e subvariantes, trata-se de um fenómeno natural e que continuará no futuro. A evolução para variantes e subvariantes que possam ter uma maior capacidade de transmissão também é normal, dado que só assim é que a nova variante/subvariante consegue predominar sobre as existentes. Esta maior infeciosidade não se acompanha habitualmente de uma maior gravidade da doença provocada ao hospedeiro e assim parece ser com a EG5 (Éris).
E sobre a BA.6?
A informação é escassa, mas não temos relatos que esta subvariante possa causar doença mais grave.
Como estão a propagar-se?
A propagação é exatamente a mesma, através das partículas salivares emitidas pela pessoa que se encontra infetada.
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Podem reinfetar pessoas ou diminuir a eficácia das vacinas?
Sim, podem vir a existir reinfeções, como já aconteceu nas últimas variantes que predominaram.
É natural que, para além da maior capacidade de infeção de determinada variante/subvariante, se adicione uma menor capacidade de resposta imunitária por parte da população, dado que a imunização existe para as variantes anteriores, dando assim à nova variante/subvariante uma vantagem na sua capacidade de infetarA OMS disse na passada quinta-feira, 17 de agosto, que a estirpe EG.5 (Éris) do SARS-CoV-2, classificada de interesse, pode provocar "um aumento na incidência" de infeções e "tornar-se dominante em alguns países ou mesmo no mundo". Como comenta esta frase?
A ocorrência de novas variantes/subvariantes que conseguem ter mais sucesso na infeção que as presentes em determinado momento é um fenómeno normal. Assim como acontece com outros vírus respiratórios, existem períodos de maior incidência da infeção provocada por determinado vírus. É o que acontece, nomeadamente, com o vírus da gripe. É natural que, para além da maior capacidade de infeção de determinada variante/subvariante, se adicione uma menor capacidade de resposta imunitária por parte da população, dado que a imunização existe para as variantes anteriores, dando assim à nova variante/subvariante uma vantagem na sua capacidade de infetar. Efetivamente, neste momento a EG.5 está a tornar-se dominante. É de referir que esta é uma subvariante da Ómicron, não é nada de muito estranho relativamente ao que já temos tido num passado recente.
Os testes à nossa disposição detetam estas variantes?
Sim, da mesma forma que as anteriores variantes/subvariantes
A que sintomas devemos prestar atenção?
Mantém-se a informação habitual. Febre, sintomas respiratórios das vias aéreas superiores como obstrução nasal, rinorreia, odinofagia ou das vias aéreas inferiores como tosse ou dispneia devem merecer atenção por parte da população, bem como como sintomas sistémicos com mialgias ou astenia.
Qualquer pessoa que tenha sintomas sugestivos de infeção respiratória deverá usar máscara para diminuir a probabilidade de infeção dos conviventes
Caso o teste seja positivo, o que fazer?
A primeira medida é colocar uma máscara na tentativa de diminuir a probabilidade de transmissão a terceiros. Em caso de sintomas relevantes ou persistentes, deverá ser procurada avaliação médica
Para já, o que entende que deve ser feito em Portugal? Que medidas devem ser tomadas?
As estruturas de saúde devem continuar a acompanhar a evolução epidemiológica destas novas variantes/subvariantes, no sentido de detetarem alguma situação em que sejam necessárias medidas adicionais de saúde pública. Qualquer pessoa que tenha sintomas sugestivos de infeção respiratória deverá usar máscara para diminuir a probabilidade de infeção dos conviventes. Em caso de aumento da incidência das infeções, nomeadamente se esse pico de incidência for prolongado, os mais frágeis, como idosos, imunodeprimidos e doentes crónicos, deverão usar máscara em locais com circulação de pessoas. É igualmente importante a vacinação daqueles com mais de 60 anos e que tenham doenças crónicas, sendo que as vacinas atuais estão adaptadas à subvariante XBB 1.5 da qual provém a EG.5.
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O regresso do uso de máscara faz sentido por cá?
Para já, penso que apenas nos casos em que o teste dê positivo.
O que fazer se apresentar sintomas de Covid-19:
Mantenha a calma e evite deslocar-se aos hospitais. Fique em casa e ligue para o SNS 24 (808 24 24 24). Escolha a opção 1 (para outros sintomas deve escolher a opção 2) ou 112 se for emergência médica. Siga todas as orientações dadas e evite estar próximo de pessoas, mantendo uma distância de, pelo menos, dois metros.
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