Entre janeiro e março, a América Latina registou mais de 3,5 milhões de casos de dengue, um número três vezes superior em relação ao mesmo período do ano passado. Por cá, os casos também estão a subir, ainda sem motivos para grande alarme. Ainda assim, será que o risco é real e que poderemos assistir a algum surto em breve?
O Lifestyle ao Minuto falou com Hélder Pinheiro, médico infeciologista e docente na NOVA Medical School, para perceber melhor todas as implicações que a dengue pode ter por cá.
"Em teoria, Portugal tem possibilidade de ter dengue, é uma das preocupações. Há uma vigilância ativa dos mosquitos que transmitem a dengue, do género Aedes, que são os mesmos mosquitos que transmitem outras doenças, como o zika, que são capazes de transmitir a dengue também", começa por dizer Hélder Pinheiro.
O risco em Portugal
Para acontecer um surto em Portugal Continental, como o que existiu na Madeira em 2012, era necessário estar reunido um conjunto de situações. "Não temos muita população infetada. Os casos importados são pontuais. Se alguém vier com a doença ativa, mas assintomático, se não procurar cuidados de saúde, e se se cruzar com algum destes mosquitos, em teoria isso é possível, apesar de a probabilidade ser reduzida."
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No caso da dengue, não existe transmissão humana. "Só através dos vetores é que a transmissão acontece. É através da picada que os mosquitos se infetam e é novamente na picada que infetam os hospedeiros."
Hélder Pinheiro é infeciologista e docente na NOVA Medical School© NOVA Medical School
As alterações climáticas são um problema a que Portugal não está imune. "As alterações climáticas estão por trás de um aumento brutal da incidência de dengue. Lembro-me de que, entre 2000 e 2013, os casos de dengue aumentaram mais de 400%. É muito provável que com as alterações climáticas a agravarem-se haja um crescimento desta doença."
Os sintomas a que deve estar atento
Se por acaso viajou para uma zona de risco, como a Ásia ou a América Latina, existem alguns sintomas a que deve estar atento e que são característicos deste vírus. "Os sintomas da doença ligeira caracterizam-se por febre, cefaleias, uma dor de cabeça muito característica, por trás dos olhos, dores articulares e musculares." Em situações mais graves pode traduzir-se em náuseas, cansaço, vómitos e até manchas na pele.
"Frequentemente aparecem umas manchas na pele, um rasgo cutâneo que é típico da dengue, que não tem uma localização específica, mas que surge principalmente no tronco e no dorso."
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Existem ainda uma condição mais severa que eleva a doença para um estado hemorrágico. "São situações muito menos frequentes. Este tipo de doenças surgem em doentes específicos, com algumas características, como o facto de já terem sido infetados", explica Hélder Pinheiro.
Para a dengue, não existe um tratamento específico. "É feito um tratamento sintomático, baixar a febre, analgésicos. Não há nenhum antivírico específico para a dengue. Havia algumas evidências de que alguns antialérgicos pudessem ter algum efeito, mas isso não foi confirmado." Só nos casos de uma doença hemorrágica é que acaba por ser necessário o tratamento hospitalar.
Os cuidados a ter
A vacina é uma das melhores formas de proteção, apesar de não ser 100% eficaz. "É uma vacina com uma proteção relativa, uma vez que não cobre todos os serotipos [que são quatro]. A que temos em Portugal é indicada para pessoas dos 4 aos 60 anos de idade e não há necessidade de terem tido já infeções prévias, ao contrário da vacina que existe, por exemplo, nos Estados Unidos."
Se for viajar para uma zona de risco, o melhor é ter outro tipo de cuidados, como os que tem quando quer evitar o contacto com mosquitos. É o caso do uso de repelentes e de redes mosquiteiras em casa. "A utilização do ar condicionado quando está dentro de casa, é outras das soluções, uma vez que a atividade dos mosquitos diminui com a diminuição da temperatura." Deverá ter ainda atenção às águas paradas, que podem se um foco de mosquitos.
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