Perguntámos a uma psicóloga como lidar com familiares tóxicos no Natal

Diz-se que 'a família não se escolhe'. Mas terá mesmo de ser mesmo assim? Catarina Lucas, psicóloga e diretora clínica do Centro Catarina Lucas, responde.

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Ana Rita Rebelo
25/12/2024 08:00 ‧ há 11 horas por Ana Rita Rebelo

Lifestyle

Entrevista

'Engordaste? Ainda solteira? Olha que ficas para tia! Quando é que casam? E filhos? Agora têm de ir ao segundo.' Sim, chegou aquela altura do ano outra vez. Durante o Natal podem surgir conversas que quer evitar e perguntas inconvenientes que geram desconforto. É por isso que Catarina Lucas, psicóloga e diretora clínica do Centro Catarina Lucas, aconselha a "planear os encontros com limites claros e evitar temas sensíveis".

 

Ao Lifestyle ao Minuto, refere também que "é importante reavaliar relações familiares tóxicas ou difíceis, especialmente quando afetam o bem-estar emocional".

A depressão sazonal existe no Natal? 

Sim, a depressão sazonal pode ocorrer no Natal. E quando falamos em depressão sazonal, falamos sobretudo da depressão associada ao outono e inverno devido à menor exposição solar. Todavia, especificamente no Natal, outros fatores podem contribuir, nomeadamente fatores emocionais, como solidão, luto ou pressão por expectativas irreais.

O Natal tende a deixar a descoberto os problemas existentes nas famílias

Quem são as pessoas em maior risco?

Aquelas que enfrentam perdas recentes, vivem e famílias desestruturadas ou não têm pessoas próximas e aquelas que estão mais isoladas. O Natal é uma época adorada por muitos, mas aqueles que não têm possibilidade de a viver no seio de uma família harmoniosa, tendem a sentir-se mais em baixo. Procurar apoio emocional, evitar expetativas irrealistas e encontrar outras formas de dar e receber amor nesta fase, pode ser uma grande ajuda.

Notícias ao Minuto © Catarina Lucas, psicóloga e diretora clínica do Centro Catarina Lucas,

Como dizia, a época festiva pode ser sinónimo de tensão, momentos desconfortáveis e conflitos. Nesse sentido, pergunto-lhe: Quais as características de uma família tóxica ou disfuncional?

O Natal tende a deixar a descoberto os problemas existentes nas famílias. Aqueles que são evitados ao longo do ano. E o problema não é o Natal, mas sim o facto de não se resolverem as coisas ao longo do tempo, gerando situações difíceis nesta época. Famílias tóxicas ou disfuncionais apresentam dinâmicas como falta de comunicação saudável, onde críticas destrutivas ou silêncios predominam, e onde ocorre controlo excessivo, que limita a autonomia dos membros. Há também negligência emocional, conflitos recorrentes que nunca são resolvidos, favoritismo ou exclusão de certos membros, e, em casos mais graves, abuso emocional, verbal ou físico.

Estabelecer limites claros sobre o que é aceitável e proteger o próprio bem-estar é essencial. Reservar momentos individuais, procurar apoio emocional fora da família e praticar a aceitação também podem ser estratégias. Se o ambiente for muito prejudicial, afastar-se pode ser a melhor escolha. Todavia, é importante avaliar se uma reconciliação pode ser possível, pois o afastamento da família tende sempre a ser dolorosa e a deixar lacunas.

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Os convívios do Natal podem acicatar as discussões, críticas e abusos emocionais?

O Natal pode intensificar conflitos familiares devido à convivência prolongada e por vezes, 'forçada', expetativas elevadas e antigos ressentimentos que surgem à tona. Pressões financeiras e diferenças de valores também contribuem para tensões. É importante planear os encontros com limites claros, evitar temas sensíveis e, caso as situações fiquem insustentáveis, priorizar o bem-estar afastando-se e procurando apoio externo.

É possível e saudável estabelecer limites com a família

Há motivos para surgirem discussões entre familiares durante esta época? 

O Natal pode gerar discussões por diversos motivos, nomeadamente pela pressão emocional, ressentimentos antigos, diferenças de valores, sobrecarga de stress, gastos excessivos ou as próprias relações tensas. Resolver os temas e conflitos ao longo do ano, manter a comunicação clara, definir limites, evitar temas delicados e promover a empatia e amor, podem ser opções.

Como lidar com a toxicidade familiar neste Natal?

Estabelecendo limites, praticando o autocuidado, evitando reações impulsivas ou irrefletidas, contando com apoio externo, afastando-se ou avaliar a possibilidade de ter a conversa que andam a adiar há meses, promover o diálogo, compreender o outro, perdoar e pedir desculpa também pode ser opção. O Natal também pode ser um ótimo pretexto para reconciliações.

Como aligeirar o ambiente?

O ideal é evitar temas difíceis, polémicos ou que sejam fraturantes, como política, temas que reportem a ressentimentos antigos. [Podem] planear atividades e tarefas leves e descontraídas, usar o humor para aliviar tensões, mostrar reconhecimento por gestos positivos, dar espaço, valorizar as coisas boas - certamente também existirão.
 
É possível estabelecer limites com a família? 

É possível e saudável estabelecer limites com a família. Algumas formas de fazer isso podem passar por ser claro e direto, definir o que é aceitável, comunicar com empatia, manter a consistência nos limites definidos, estar preparado para a resistência, gerir a frustração, fazer cedências e negociações consideradas justas e adequadas.

E quando o problema é um familiar de difícil trato?

Lidar com familiares difíceis exige paciência e alguma perícia. É importante estabelecer limites claros e não levar tudo a título pessoal. A maioria das coisas será sobre a própria pessoa e não sobre nós. Deve também ser assertivo, manter a calma, aceitar possíveis limitações do outro e procurar ajuda externa.
 
Estas relações devem ser reavaliadas?

É importante reavaliar relações familiares tóxicas ou difíceis, especialmente quando afetam o bem-estar emocional. Manter relações disfuncionais pode ser prejudicial a longo prazo e reavaliá-las ajuda a decidir se é necessário estabelecer mais distância ou redefinir os limites. Assim podemos avaliar o impacto emocional que tem sobre nós, considerar os padrões de comportamento e perceber se a pessoa esta disposta a ajustar alguma coisa para melhorar a dinâmica, dar prioridade ao próprio bem-estar e a relações baseadas no respeito. E reavaliar não significa cortar relações de forma abrupta, mas sim tomar decisões conscientes sobre como se relacionar com essas pessoas de forma a que não prejudique a própria paz.

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