As estudantes que frequentam universidades fora da sua área de residência apresentam níveis de ansiedade e stresse "significativamente mais elevados" do que os colegas do sexo masculino, revelou um estudo do Instituto Superior Miguel Torga, em Coimbra.
"A maior maturidade das mulheres estudantes, a forma mais consciente como encaram os problemas e as expectativas sociais mais elevadas que têm em comparação com os homens traduzem-se em geral em mais sintomas emocionais negativos", explicou a coordenadora do estudo, Ilda Massano Cardoso.
Leia Também: Psicólogo partilha técnica para gerir uma crise de ansiedade
Intitulado 'Ansiedade, depressão e stresse em estudantes universitários deslocados da sua residência', este estudo, realizado pelo Instituto Superior Miguel Torga, visou analisar as dificuldades emocionais enfrentadas por estudantes que vão estudar para longe das suas casas.
Publicado em novembro de 2024, integra a Revista Portuguesa de Investigação Comportamental e Social editada há dez anos por este estabelecimento de ensino superior de Coimbra.
De acordo com a investigadora e docente do Instituto Superior Miguel Torga, as preocupações financeiras, de integração social e de desempenho académico afetam mais as universitárias do que os estudantes masculinos.
Leia Também: Estudo revela hábito que pode aumentar risco de depressão em idosos
Nos sintomas de depressão, a distinção entre mulheres e homens "não é significativa". Segundo o estudo, os estudantes deslocados exibem mais sintomas emocionais negativos como a ansiedade, depressão e stresse, do que a população portuguesa em geral.
"A transição para o ensino superior é um marco importante na vida dos jovens, traz novas possibilidades, mas também desafios significativos, especialmente para aqueles que precisam de se deslocar das suas casas", afirmou Ilda Massano Cardoso.
Essa experiência "pode desencadear fortes sentimentos de ansiedade e stresse devido à adaptação a novos ambientes, responsabilidades acrescidas e mudanças profundas na rede de apoio social".
O estudo aponta ainda que os estudantes internacionais apresentam "níveis de ansiedade significativamente mais elevados do que os nacionais".
"É fundamental oferecer apoio mais direcionado aos estudantes que estão não só deslocados da sua casa de família, como do seu país de origem. Este grupo enfrenta desafios acrescidos de adaptação e integração cultural e, por isso, devem ter à sua disposição uma rede de apoio mais personalizada", referiu.
Entre os estudantes inquiridos, 45,4% relataram dificuldades em encontrar alojamento e 51,5% afirmaram que, embora encontrar alojamento tenha sido possível, não foi na zona desejada.
Apesar das adversidades, os estudantes demonstraram "um elevado grau de satisfação com o conforto das habitações, com 75,4% a aprovar o mobiliário e 77,9% satisfeitos com a qualidade da internet".
Leia Também: Lipedema. O que é e como tratar? Tudo sobre a 'doença das pernas gordas'
O estudo sugere que, diante dos desafios emocionais identificados, "são essenciais intervenções direcionadas para prevenir problemas de saúde mental mais graves entre os universitários deslocados".
"Os resultados deste estudo são um claro sinal de alerta para a importância de desenvolver políticas e estratégias integradas de prevenção e promoção da saúde mental, que incluam acesso a serviços de saúde, atividades extracurriculares, redes de apoio social e estratégias de 'coping' adaptativas", alertou Ilda Massano Cardoso.
Para a docente, estas medidas são fundamentais para ajudar os jovens a lidar com os desafios emocionais da vida académica e reduzir a sua vulnerabilidade.
"As associações académicas devem acompanhar com proximidade o trabalho dos gabinetes de apoio ao estudante, por exemplo, promovendo o apoio entre os pares", frisou.
O estudo explorou também a relação entre idade, anos de escolaridade e sintomas emocionais negativos, com os resultados a indicarem que estudantes mais velhos tendem a apresentar níveis ligeiramente mais elevados de depressão, enquanto os anos de escolaridade não mostraram correlação com os níveis de ansiedade, depressão e stresse.
Leia Também: Limite o consumo destes alimentos. Podem aumentar a ansiedade