Na intervenção principal da sessão oficial de abertura dos Encontros Anuais do Banco Africano de Exportações e Importações (Afreximbank), o chefe de Estado da mais desenvolvida economia africana contou como se sentiu pressionado para assinar o acordo durante a cimeira extraordinária da União Africana (UA), que decorreu em Kigali, em março.
"Em Kigali, sinalizámos a intenção de assinar, e muitos líderes nesta cimeira diziam que os olhos de todos os países africanos estavam direcionados para a Nigéria e para a África do Sul, e esperavam que assinassem; disseram, claro, que não era preciso sentir-me pressionado, mas eu assinei a carta de intenções, e na semana passada, na Mauritânia, assinámos o acordo", contou Ramaphosa.
Virando-se para a ministra das Finanças da Nigéria, o chefe de Estado sul-africano disse, em tom humorístico: "Nós já assinámos o acordo, portanto, Nigéria, não se sintam pressionados, só queria dizer que já assinámos, mas claro, não se sintam pressionados, demorem o tempo que for preciso, mas não demorem muito, que o resto do continente está à vossa espera".
Na resposta, Keomi Adeosun disse que o processo está em curso: "Temos de fazer consultas, somos uma federação de pequenos estados e estamos a concluir o processo de consultas; nunca devemos ter pressa para fazer as coisas mal, porque isto é realmente importante e tem de ser bem feito".
Prometendo "ratificar em breve" o acordo que já foi assinado por 44 das 54 nações africanas, Cyril Ramaphosa elogiou a posição da Nigéria, que disse precisar de mais tempo para discussões internas sobre o tratado, tal como a África do Sul.
"O acordo é um novo amanhecer, sinaliza a união de propósito e é uma busca pelo bem comum de um continente próspero e independente, tornando-nos um continente vencedor porque simboliza a unidade, que era a aspiração dos nossos antepassados", vincou Ramaphosa.
O acordo de livre comércio abrange um mercado de 3,3 biliões de dólares, abarcando uma população de mais de 1,2 mil milhões de africanos "e vai combinar a integração regional com a industrialização nacional, aliviando o défice de infraestruturas", acrescentou o chefe de Estado.
"Ao comercializar entre nós, vamos conseguir reter mais recursos no continente para serem partilhados entre o nosso povo, o que ajuda a aliviar a pobreza e a reduzir as desigualdades", concluiu o governante.
O Comissário da UA para o Comércio e Indústria, Albert Muchanga, defendeu no seguimento da aprovação do acordo, em março, que a indústria e a classe média do continente vão beneficiar com a eliminação progressiva dos direitos alfandegários entre os membros da ZLEC, tendo em conta que apenas 16% do comércio dos países africanos é feito no continente, contra quase 70% na Europa e perto de 40% na América.
A ZLEC inscreve-se no quadro de um processo que, até 2028, prevê a constituição de um mercado comum e de uma união económica e monetária de África, razão pela qual também está em curso a implementação do Passaporte Único Africano, tudo incluído na chamada Agenda 2063, que visa desenvolver económica, financeira e socialmente o continente até àquele ano.
O Afreximbank, cujos Encontros Anuais decorrem até sábado em Abuja, a capital da Nigéria, é um banco de apoio ao comércio, exportações e importações em África e foi criado em Abuja, 1993. Tem um capital de 5 mil milhões de dólares e está sedeado no Cairo.
Os acionistas são entidades públicas e privadas divididas em quatro classes e dele fazem parte governos africanos, bancos centrais, instituições regionais e sub-regionais, investidores privados, instituições financeiras, agências de crédito às exportações e investidores privados, além de instituições financeiras não africanas e de investidores em nome individual.