Numa declaração, por ocasião do Dia internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, que hoje se comemora, a chefe da diplomacia europeia lembrou que "a democracia não pode sobreviver sem meios de comunicação livres, plurais e independentes", lamentando, contudo, que "muitos destes" sejam alvo de ameaças e atentados "simplesmente por fazerem o seu trabalho", enquanto os seus autores ficam impunes.
Mogherini mencionou o caso recente do assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, e ainda a morte dos jornalistas de investigação Daphne Caruana Galizia (Malta) e Jan Kuciak (Eslováquia) na União Europeia, três exemplos que, na sua opinião, demonstram que "nenhuma região do mundo está a salvo" dos atentados à liberdade de imprensa.
A também vice-presidente da Comissão Europeia constatou ainda que em muitos países existe "uma tendência preocupante de restringir e limitar o jornalismo livre", com as autoridades a porem em causa indiscriminadamente a credibilidade dos meios de comunicação "para desacreditar e debilitar o seu trabalho".
A política italiana instou os Governos a garantirem, através de "um sistema jurídico sólido", um ambiente no qual os jornalistas possam trabalhar em segurança e protegidos, tanto na internet, como fora dela, sem serem vítimas de assédio, pressões políticas, censura ou perseguição.
"O jornalismo livre é a pedra angular das sociedades livres: limitá-lo é limitar a nossa própria liberdade", concluiu.
Um dos casos mais recentes de atentado à liberdade de imprensa aconteceu durante a campanha eleitoral brasileira para as presidenciais, que Jair Bolsonaro venceu, com a organização não-governamental Human Rights Watch a denunciar ameaças e atos de violência contra jornalistas.
Patrícia Campos Mello, repórter especial do jornal Folha de São Paulo, disse que foi vítima de várias ameaças através da Internet e de duas chamadas telefónicas ameaçadoras, tendo visto ainda a sua conta na rede WhatsApp ser atacada, depois de ter denunciado uma suposta campanha de envio de notícias falsas, levada a cabo por empresários favoráveis ao candidato Jair Bolsonaro, segundo a Human Rights Watch.
Após a publicação da reportagem sobre o escândalo ligado a Jair Bolsonaro, Mauro Paulino, diretor-executivo da plataforma Datafolha (ligada ao jornal Folha de São Paulo) também recebeu ameaças através de uma aplicação de mensagens, assim como em sua casa, de acordo com o jornal.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo documentou 141 casos de ameaças e violência contra jornalistas que cobriam as eleições. A maioria deles é atribuída a apoiantes de Bolsonaro, seguindo-se os do Partido dos Trabalhadores (PT).