Ocasio-Cortez desmontou o lado obscuro (mas legal) da política nos EUA

A congressista precisou apenas de alguns minutos para demonstrar as falhas nas leis de financiamento de campanha para os membros do Congresso. E o presidente está sujeito a mínimas restrições…

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Fábio Nunes
08/02/2019 18:40 ‧ 08/02/2019 por Fábio Nunes

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Para já pode-se dizer que Alexandria Ocasio-Cortez está a corresponder às expectativas de alguém que ia chegar ao Congresso dos Estados Unidos para agitar o poder instituído. A mais jovem mulher congressista na história de Capitol Hill anda está a dar os seus primeiros passos mas não precisou de muito tempo para mostrar uma das principais falhas no sistema político norte-americano.

Foi pouco tempo, literalmente. Em poucos minutos, durante uma audição sobre direitos de votação e legislação de financiamento de campanha, a congressista democrática expôs algumas das principais falhas e brechas das leis de financiamento de campanha para os membros do Congresso norte-americano. Alexandria Ocasio-Cortez realçou o lado obscuro da política nos Estados Unidos, mas que é, de uma forma geral, legal.

De uma forma simplificada, e como se se tratasse de um jogo, Ocasio-Cortez interpretou o papel da vilã que pretende aproveitar-se das falhas do sistema e escapar sem punição.

“Eu vou ser a má da fita – algo que tenho a certeza de que metade desta sala iria concordar de qualquer das formas – e quero conseguir safar-me do maior número possível de coisas más”, começou por afirmar. “Se eu quiser fazer uma campanha que seja totalmente financiada por comités de ação política corporativa [lóbis de grande empresas], há algo que legalmente me proíba de o fazer?”, questionou.

A resposta de um dos conselheiros do comité desta audição foi “não”.

“Agora fui eleita. Entrei. Tenho o poder para redigir, fazer 'lobbying', alterar as leis que governam os Estados Unidos da América. Fabuloso. Há algum limite que tenha em termos da legislação que posso trabalhar? Há algum limite relativamente às leis que posso escrever ou influenciar, especialmente tendo em conta os fundos que aceitei para financiar a minha campanha e conseguir ser eleita?”, perguntou Ocasio-Cortez.

A resposta foi que “não há qualquer limite”.

“Então posso ser totalmente financiada por petróleo e gás. Posso ser totalmente financiada pelas grandes farmacêuticas, chego aqui e escrevo grandes leis para as grandes farmacêuticas e não há qualquer limite para isto?”, insiste a congressista democrata eleita por Nova Iorque. “Exato”, respondeu um dos conselheiros.

“Agora aquilo que quero fazer é ficar rica com o menor trabalho possível. É aquilo que quero fazer enquanto má da fita, certo? Há algo que me proíba de ter ações, por exemplo, numa empresa petrolífera ou de gás e depois escrever leis para liberalizar esta indústria porque isso pode fazer com que potencialmente o valor das ações dispare e eu acumulo muito dinheiro?”, questionou.

“Podia fazer isso”, afirmou um dos conselheiros.

“É possível que algum dos elementos desta história se aplique ao nosso governo atual e aos nossos funcionários públicos?”. As respostas foram unânimes: “sim”.

“Então temos um sistema que está fundamentalmente falido. Este tipo de influências existe neste organismo, o que significa que estão aqui presentes neste comité, alterando as questões que vos são colocadas. Diriam que isso está correto?”. Novo “sim”.

Mas essa facilidade para ser “mau” no sistema político norte-americano é superior conforme se vá subindo na hierarquia.

“Comparando com o ramo executivo e comparando com, digamos, o presidente dos Estados Unidos, diriam que o Congresso tem o mesmo tipo de padrão de responsabilização? Há uma maior regulação no Congresso relativamente ao presidente? Diriam que é igual?”, indagou Ocasio-Cortez.

“Em termos de de leis que se aplicam ao presidente? Sim, praticamente não há leis que se apliquem ao presidente”, respondeu um dos conselheiros.

“Então eu, e todas as pessoas que aqui estão, somos sujeitos a um padrão ético mais elevado do que o presidente dos Estados Unidos?”. A resposta foi positiva mais uma vez.

“Portanto é ainda mais fácil para o presidente dos Estados Unidos ser o mau da fita. Presumo”, apontou a congressista. O conselheiro respondeu que “sim”.

O vídeo deste momento de Alexandria Ocasio-Cortez já foi visto por milhões de pessoas.

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