Nas primeiras impressões à chegada a Moçambique, o coordenador da equipa de emergência dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Beira, Gert Verdonck, assinalou a falta de acesso a água potável e as dificuldades de acesso a hospitais e centros de saúde.
"As doenças transmitidas pela água são certamente uma preocupação. As pessoas estão a usar água de poços e é improvável que essa água seja segura para beber", relatou Gert Verdonck, numa informação divulga para a imprensa pela organização.
O responsável manifestou também preocupação com o risco de proliferação de doenças respiratórias.
"Continua a chover, mesmo dentro das casas, e a pneumonia vai ser um problema. Muitas pessoas juntaram-se em escolas e igrejas, onde as doenças respiratórias podem facilmente espalhar-se", acrescentou.
O sistema de abastecimento de água não está a funcionar e há vastas áreas onde as populações enfrentam grandes dificuldades para encontrar água potável, segundo Verdonck, que considerou difícil conseguir, para já, ter um retrato claro das necessidades de cuidados médicos.
"Nesta fase é difícil ter noção das necessidades médicas. Na verdade, é ainda mais difícil chegar aos centros de saúde porque as estradas estão destruídas ou os próprios centros estão destruídos. Este é o nosso grande desafio neste momento", considerou.
Disse, por outro lado, que também se coloca a questão de como tratar as pessoas que vão ficando doentes "com tantas estruturas de saúde danificadas ou destruídas".
"Vamos começar a responder às principais necessidades que vamos vendo e simultaneamente vamos construindo um melhor entendimento de onde a nossa ajuda poderá ter mais impacto, ajustando a nossa resposta de acordo", reforçou.
Fazendo uma descrição da situação global, Gert Verdonck destacou imensa destruição.
"A primeira coisa que se vê à chegada é destruição e muita água. Foi-nos dito que a situação fora da cidade [da Beira] poderá ser ainda pior", adiantou.
Apontou, por outro lado, que a "vida como que continua" com as pessoas a regressarem aos trabalhos, a começarem a procurar comida e a reparar as casas".
"Continua a chover muito e ainda vai demorar até que o nível das águas comece a descer", acrescentou.
Pelo menos 300 pessoas morreram à passagem do ciclone Idai por Moçambique, Zimbabué e Maláui, onde os socorristas se desdobram agora em esforços para salvar milhares de pessoas que continuam refugiadas em cima de telhados e árvores.
Em Moçambique, o Presidente da República, Filipe Nyusi, anunciou na terça-feira que mais de 200 pessoas morreram e 350 mil "estão em situação de risco", tendo decretado o estado de emergência nacional.
O Idai, com fortes chuvas e ventos de até 170 quilómetros por hora, atingiu a Beira (centro de Moçambique) na quinta-feira à noite, deixando os cerca de 500 mil residentes sem energia e linhas de comunicação.
A Cruz Vermelha Internacional indicou na terça-feira que pelo menos 400 mil pessoas estão desalojadas na Beira, em consequência do ciclone, considerando tratar-se da "pior crise" do género no país.
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, viajou para a Beira, onde dezenas de portugueses perderam casas e bens devido ao ciclone Idai, para acompanhar o levantamento das necessidades e o primeiro apoio às populações afetadas.
No Zimbabué, as autoridades contabilizaram pelo menos 100 mortos e centenas de desaparecidos, enquanto no Maláui as únicas estimativas conhecidas apontam para pelo menos 56 mortos e 577 feridos.
Moçambique tinha já sido atingido por inundações mortíferas em 2000, causando na altura 800 mortos e mais de 50 mil desalojados.
O país está entre os destinos possíveis da viagem do papa a África prevista para setembro e que deverá incluir também Madagáscar.