CDU necessita de SPD para governar e extrema-direita liderará oposição

O bloco conservador liderado por Friedrich Merz venceu as eleições legislativas de domingo na Alemanha, mas necessitará de se coligar com os socialistas do SPD, enquanto a extrema-direita, que obteve o melhor resultado desde o pós-guerra, liderará a oposição.

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© Martin Schutt/picture alliance via Getty Images

Lusa
24/02/2025 11:30 ‧ há 2 horas por Lusa

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Alemanha

A União Democrata-Cristã (CDU), de Merz, venceu as eleições com 28,6% dos votos, seguida do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), com 20,8%, enquanto os socialistas do SPD, do chanceler cessante Olaf Scholz, não foram além dos 16,4%, o pior resultado da sua história.

 

Os Verdes, que faziam parte da coligação governamental liderada por Scholz, caíram para os 11,61%, enquanto A Esquerda (Die Linke) obteve 8,77%, e serão as outras bancadas da oposição, enquanto os liberais do Partido Democrático Livre (FDP) -- que completavam a «coligação semáforo» cessante -- e a Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), força populista de esquerda, falharam a eleição para o Bundestag, a câmara baixa do parlamento alemão.

Eis alguns pontos essenciais das eleições legislativas antecipadas de domingo na Alemanha:

Conservadores de Friedrich Merz com vitória pouco brilhante

A União Democrata-Cristã (CDU), que concorreu em coligação com a sua congénere bávara a União Social Cristã (CSU), venceu sem surpresa as eleições e volta a ser a força política dominante na Alemanha, mas com um resultado pouco brilhante, abaixo dos 30%, o segundo pior da sua história.

O mais do que provável futuro chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, antigo rival de Ângela Merkel e que representa a ala mais à direita da CDU, terá assim de negociar com os socialistas do SPD (centro-esquerda) para formar governo, depois de ter garantido ao longo da campanha, e reiterado no domingo à noite, que rejeita qualquer tipo de colaboração com a extrema-direita, mantendo o 'cordão sanitário' em vigor no país desde a II Guerra Mundial.

No domingo, Merz disse pretender formar rapidamente uma coligação governamental, pois "o mundo lá fora não está à espera da Alemanha".

Friedrich Merz admitiu que as negociações "não serão fáceis". Com 208 deputados eleitos, à CDU 'basta' ter o SPD (120 deputados) como parceiro para superar a 'fasquia' dos 316 assentos necessários para formar uma maioria absoluta e governar.

AfD duplica os votos e torna-se a principal força da oposição no Bundestag

Apesar da recusa da CDU em convidá-la para formar governo, tal como era seu desejo, reiterado no domingo, a Alternativa para a Alemanha foi uma das grandes vencedoras da noite, ao duplicar a votação de 2021 e superar os 20%, o melhor resultado da extrema-direita na Alemanha desde o pós-guerra.

Apresentando como candidata a chanceler Alice Weidel, o AfD duplicou a votação de 2021 (tinha alcançado então 10,4%), torna-se a principal bancada da oposição no Bundestag, com 152 deputados, e cimentou no domingo a sua posição de força política com mais força na Alemanha de Leste.

O resultado do AfD, partido fundado há dez anos com uma orientação eurocética e que adotou desde então um programa virulento anti-imigração e anti-Islão, bem como posições pró-russas, foi saudado por forças de extrema-direita de toda a Europa, mas também pelo Presidente norte-americano, Donald Trump.

Já hoje, Alice Weidl assumiu o objetivo de vencer as próximas eleições gerais de 2029 para governar a Alemanha, considerando que o resultado "histórico" de domingo coloca a AfD "na melhor posição possível" para chegar ao poder.

SPD com resultado catastrófico mas ainda assim deverá fazer parte do Governo

O grande derrotado das eleições foi o Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler cessante Olaf Scholz, que registou o pior resultado dos seus 161 anos de história e pela primeira vez não é uma das duas principais forças políticas na Alemanha, mas ainda assim deverá ser o parceiro de coligação dos conservadores.

Com apenas 120 deputados eleitos para o futuro parlamento (menos 86 do que atualmente), o SPD assumiu que o resultado foi "catastrófico", e a direção do partido já admitiu que é necessário "uma mudança geracional".

O próprio Scholz já abriu a porta à sua saída da cena política, ao dizer que se (re)candidatou ao cargo de chanceler e não a qualquer outro cargo ministerial num governo liderado pela CDU, acrescentando que não está sequer disposto a liderar as negociações que se seguirão com os conservadores para a formação de uma coligação.

O ressurgimento do Die Linke

Outro dos vencedores da noite foi o partido Die Linke (A Esquerda), que recentemente parecia condenado ao declínio, mas ganhou um improvável ímpeto nas últimas semanas e, sustentado pelo sucesso junto do eleitorado mais jovem, conseguiu chegar aos 7,9% dos votos, o que lhe permitiu eleger 64 deputados, mais 25 do que os que tem atualmente.

Descendente do partido comunista SED, que governou a antiga RDA, o Die Linke chegou a obter 11,9% dos votos em eleições legislativas, em 2009, mas desde então foi perdendo protagonismo e muitos vaticinavam o seu desaparecimento quando, em finais de 2023, aquela que era a sua maior "estrela" política abandonou o partido para formar o seu próprio, que batizou com o seu nome, a Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), levando consigo muitos dissidentes.

No entanto, A Esquerda encontrou uma nova "estrela", Heidi Reichinnek, 36 anos e co-líder parlamentar do partido, juntamente com Sören Pellmann, que se tornou um fenómeno nas redes sociais, sobretudo pelas suas intervenções apaixonadas contra a extrema-direita e contra Friedrich Merz, e volta a ter papel de destaque no Bundestag.

Liberais e "esquerda conservadora" de fora do parlamento

Dois grandes perdedores das eleições de domingo foram os liberais do FDP e a esquerda populista do BSW, que falharam a eleição para o parlamento, ao alcançarem, respetivamente, 4,3% e 4,9% dos votos, abaixo do limiar dos 5%.

O resultado de domingo ditou a demissão do líder do FDP, o antigo ministro das Finanças Christian Lindner, que anunciou no domingo à noite que vai retirar-se da vida política ativa.

Amarga foi também a noite para Sahra Wagenknecht, antiga figura de proa do Die Linke: anti-capitalista, opositora à NATO, às bases militares norte-americanas na Alemanha e ao apoio militar à Ucrânia, Wagenknecht, que defende uma linha dura contra a imigração, acabou por falhar por muito pouco, a eleição para o Bundestag, com 4,97% dos votos, muito aquém dos 9% que as sondagens lhe conferiam até recentemente.

Também para os Verdes, a noite eleitoral foi amarga. Depois de fazer parte da coligação cessante, o partido liderado pelo vice-chanceler e ministro da Economia, Robert Habeck, e pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, quedou-se pelos 11,6%, elegendo 85 deputados, menos 33 do que no atual parlamento, e, apesar de se ter disponibilizado para fazer parte do futuro governo, ficará nas bancadas da oposição, onde será, de resto, a única força não radical.

Taxa de participação mais elevada desde a reunificação da Alemanha

A participação em eleições federais na Alemanha subiu para os 83,5%, o número mais alto desde a reunificação do país, em 1990, com os analistas a considerarem assim que a democracia foi uma das vencedoras deste ato eleitoral.

No país da Europa com maior número de eleitores (59,2 milhões), a adesão às urnas foi significativamente superior àquela registada em 2021, quando a taxa de participação se cifrou nos 76,4 %, e superou aquela que era a maior adesão às urnas desde a reunificação, os 82,2% de 1998.

Leia Também: Primeiro-ministro húngaro felicita líder da extrema-direita na Alemanha

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