"Apesar da fome generalizada e das imensas necessidades humanitárias, não nos resta outra alternativa senão tomar a decisão de suspender todas as nossas atividades no campo, incluindo o hospital de campanha dos MSF", declarou a ONG em comunicado.
O campo de Zamzam, situado em Al-Fashir e que alberga pelo menos meio milhão de deslocados, foi atacado na terça-feira, 11 de fevereiro, pelo grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).
Desde então, o campo tem sido palco de combates entre as RSF, por um lado, e, por outro, o exército sudanês e as milícias aliadas, forças em guerra desde abril de 2023.
Este campo, o maior do Darfur, foi o primeiro local onde foi declarado o estado de fome no Sudão, em agosto passado.
Desde maio de 2024, as RSF cercaram Al-Fashir sem o conseguir tomar. Nas últimas semanas, intensificaram os seus ataques contra a cidade e as aldeias vizinhas, obrigando milhares de pessoas a fugir, segundo a Organização das Nações Unidas.
De acordo com o comunicado, o hospital de campanha dos MSF, que não dispõe de serviços de traumatologia, recebeu 139 feridos nas primeiras três semanas de fevereiro, a maioria dos quais causados por ferimentos de bala ou estilhaços. Onze pacientes, incluindo cinco crianças, morreram, de acordo com a ONG.
"Parar as nossas atividades no meio de uma catástrofe que se agrava em Zamzam é uma decisão de partir o coração", disse Yahya Kalilah, chefe de missão dos MSF no Sudão.
"Porém, as condições de segurança mais básicas não existem atualmente para que possamos ficar", acrescentou.
Os confrontos entre os paramilitares das RSF de Mohamed Hamdane Daglo e o exército do general Abdel Fattah al-Burhane, dois antigos aliados que se tornaram rivais, fizeram dezenas de milhares de mortos.
Enquanto o exército controla o leste e o norte do Sudão, os paramilitares mantêm controlo sobre a quase totalidade do Darfur, uma vasta região no oeste do país onde vive um quarto dos 50 milhões de pessoas do país.
As agências das Nações Unidas indicaram que, desde o início da guerra civil, cerca de 12 milhões de pessoas foram deslocadas, 3,5 milhões das quais fugiram do Sudão.
Ao mesmo tempo, quase dois terços da população necessitam de ajuda de emergência, com regiões inteiras a enfrentar condições de fome.
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