Governo de Boris Johnson abalado por derrotas e deslizes

Críticas da polícia e de médicos culminaram uma semana de derrotas e deslizes políticos do Governo do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que está em funções há apenas 46 dias.

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Lusa
07/09/2019 08:32 ‧ 07/09/2019 por Lusa

Mundo

Brexit

Depois de surpreender o Parlamento com o facto consumado da autorização da rainha Isabel II para suspender os trabalhos dos deputados durante cinco semanas, o primeiro-ministro britânico parecia estar numa posição de força.

A medida foi vista como uma tentativa de limitar significativamente o tempo para os deputados apresentarem medidas para impedir uma saída do Reino Unido da União Europeia (UE) sem acordo.

Mas a rebelião de 21 deputados conservadores possibilitou aos partidos da oposição introduzirem na terça-feira um projeto de lei para forçar o Governo a pedir um novo adiamento do 'Brexit' por três meses.

A passagem das etapas de aprovação na Câmara dos Comuns, na generalidade e especialidade, na quarta-feira significaram mais duas derrotas do Governo, a que se somou outra, a do chumbo da proposta de eleições antecipadas, inviabilizada no mesmo dia pela oposição.

O verniz da máquina governamental, que durante semanas se aplicou em anúncios de mais dinheiro para a polícia, escolas, hospitais e infraestruturas, continuou a estalar.

A expulsão dos 21 conservadores "rebeldes", entre os quais o neto de Winston Churchill, Nicholas Soames, e o mais antigo deputado em funções, Ken Clarke, resultou em críticas dentro e fora dos 'tories'.

"Tiraram-me do grupo parlamentar após 37 anos como deputado conservador. Votei contra o Governo três vezes em 37 anos", queixou-se Soames, deixando implícita uma crítica a outros deputados conservadores, incluindo a Johnson, que desrespeitaram a disciplina do partido noutras ocasiões.

Nas redes sociais, começaram a circular sátiras à imagem do ministro responsável pelas relações com o parlamento, Jacob Rees-Mogg, reclinado na bancada parlamentar, em sinal de desafio, durante o debate sobre a proposta de eleições antecipadas.

Uma dessas imagens é a de uma curva de um gráfico mostrando o declive da maioria parlamentar do Governo.

A deputada dos Verdes, Caroline Lucas, acusou Rees-Mogg de, "com a sua linguagem corporal", mostrar desconsideração pelos deputados.

Rees-Mogg foi forçado a pedir desculpa, não por isto, mas por ter comparado o médico David Nichol, que alertou para as consequências do 'Brexit' nos serviços de saúde públicos, com Andrew Wakefield, considerado um dos responsáveis pela desinformação relacionada com os riscos das vacinas.

Boris Johnson também foi desafiado a desculpar-se pelo chefe da polícia de West Yorkshire, que disse ter ficado "desiludido" com o primeiro-ministro por este ter usado uma visita, na quinta-feira, a uma academia de polícia e um discurso com cadetes como pano de fundo para falar do 'Brexit'.

"Não tínhamos conhecimento prévio de que o discurso seria ampliado para outros assuntos", queixou-se John Robins.

Mas o rombo mais grave foi dado pelo próprio irmão, Jo Johnson, que se demitiu na quinta-feira invocando incompatibilidade entre "lealdade à família e o interesse nacional".

Esta notícia fez ressurgir declarações de Boris Johnson em 2013, quando comentou ao jornal The Australian a candidatura de Ed Miliband contra o irmão David nas eleições para a liderança do partido Trabalhista.

"Nós não fazemos as coisas dessa maneira, isso é uma coisa de esquerda. Apenas um socialista poderia fazer isso com seu irmão, apenas um socialista poderia considerar os laços familiares como sendo tão triviais a ponto de apunhalar o próprio irmão", disse na altura.

 

 

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