"Estamos a falar de um médico legista, que são médicos para fazer a perícia e concluir a causa da morte, e estamos a falar de um médico por província, e com certeza um médico por província não responde àquela que é a demanda que vai surgindo", afirmou hoje Massoxi Vigário, coordenadora nacional do Programa de Saúde Mental e Abuso de Substâncias de Angola.
A psicóloga clínica admitiu igualmente que os suicídios registados nos últimos cinco anos no país "podem não refletir a realidade" porque, explicou, "nem todo suicídio é declarado pela família ou comunidade".
Segundo a responsável, "existem inclusive comunidades que se protegem quando se fala que alguém morreu" e, no entanto, observou, há "comunidades em que se verifica em menos de um ano a morte de duas, três ou mais pessoas por suicídio".
"Logo pensar que 2.500 é um número real ou não, temos um problema a nível nacional, nós não temos um sistema de tratamento de dados muito atuante, logo há números que ficam sempre de fora e temos de considerar que o número não é apenas esse e pode ser vezes dois ou três", apontou.
A especialista, que falava em Luanda, à margem de uma cerimónia no âmbito do Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala hoje, acrescentou: "Por muito que seja assustador pensarmos em 2.500 pessoas pode ser ainda mais assustador pensarmos que o número é ainda superior e devemos de facto nos preocupar com isso".
O Programa de Saúde Mental e Abuso de Substâncias, em colaboração com o departamento de medicina legal do Serviço de Investigação Criminal (SIC) angolano, deve concluir ainda esta semana as "estatísticas mais recentes" sobre suicídios em Angola.
Massoxi Vigário lamentou ainda a carência de médicos e técnicos de saúde para darem sustentabilidade à Rede Integrada de Serviços de Saúde Mental que, há sete anos, compreende apenas as províncias de Cabinda, Luanda, Malanje, Benguela, Huambo, Huíla e Cunene.