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"Rock leva ao aborto e ao satanismo", diz dirigente cultural brasileiro

O presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), órgão público que fomenta as artes no Brasil, nomeado oficialmente na segunda-feira, afirmou no seu canal no Youtube que "o Rock leva ao aborto e ao satanismo".

Notícias ao Minuto

07:18 - 03/12/19 por Lusa

Mundo Brasil

Dante Mantovani, que é maestro e mestre em Linguística, declarou que o "rock ativa a droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto". Para o recém-nomeado presidente da Funarte, "a indústria do aborto, por sua vez, alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo. O próprio John Lennon disse que fez um pacto com o diabo".

Citado pela imprensa brasileira, o novo líder cultural argumentou, por exemplo, que "agentes comunistas infiltrados na 'CIA' [Agência Central de Inteligência norte-americana] foram responsáveis por distribuir LSD [uma forte substância alucinógena] a jovens durante o festival de Woodstock".

"Como é que o brasileiro não valoriza sua cultura?" questionou também o novo presidente da Funarte, acrescentando: "Queremos dar ao Brasil a imagem de um bordel. As pessoas virão aqui para ter as suas aventuras, as suas orgias sexuais".

A Funarte é uma das fundações mais importantes de fomento à arte no Brasil, através de prémios e concursos, publicados em editais.

A comunidade artística brasileira tem reclamado da "guerra contra o marxismo cultural" lançada pelo novo Governo brasileiro, chefiado pelo Presidente Jair Bolsonaro, que assumiu o cargo em janeiro último, e que tem defendido a censura da atividade cultural no país.

Outra das nomeações polémicas para a Cultura brasileira aconteceu na quarta-feira passada, quando o Governo anunciou como novo presidente da Fundação Cultural Palmares, entidade pública que visa promover a cultura afro-brasileira, um jornalista que nega a existência de racismo e defende um "movimento de negros da direita conservadora".

O executivo brasileiro efetuou alterações em entidades sob a tutela da Secretaria da Cultura, como é o caso da Fundação Cultural Palmares, com a nomeação para seu presidente do jornalista e militante da extrema-direita Sérgio Nascimento de Camargo.

Na sua página na rede social Facebook, Camargo mostra-se apoiante do atual Governo e protesta com frequência contra causas que envolvam o movimento negro, defendendo, por exemplo, o fim do feriado da Consciência Negra.

"O Dia da Consciência Negra é uma vergonha e precisa ser combatido incansavelmente até que perca a pouca relevância que tem e desapareça do calendário. É um feriado político, instituído pela esquerda com o objetivo de propagar o revanchismo histórico, o ressentimento racial e a degradante agenda progressista. Sou negro e repudio essa data", escreveu o jornalista.

Numa outra publicação, Camargo compara o racismo entre o Brasil e os Estados Unidos da América (EUA), afirmando que apenas no segundo país ele é "real".

"O Brasil tem racismo 'nutella'. Racismo real existe nos EUA. A 'negrada' daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda", afirmou, em 15 de setembro, o novo presidente da Fundação Cultural Palmares.

A Fundação Cultural Palmares, cujo estatuto foi aprovado em 1992, tem como missão "os preceitos constitucionais de reforços à cidadania, à identidade, à ação e à memória dos segmentos étnicos dos grupos formadores da sociedade brasileira, além de fomentar o direito de acesso à cultura e à ação do Estado na preservação das manifestações afro-brasileiras".

Contudo, o novo presidente da Fundação demarca-se de qualquer raiz africana na sua formação, afirmando que "rejeita a africanidade imposta pela esquerda".

Carmargo foi indicado para o cargo por Roberto Alvim, um polémico dramaturgo nomeado como secretário especial de Cultura no início do mês, por Jair Bolsonaro.

Roberto Alvim é diretor do Centro de Artes Cénicas da Funarte, a Fundação Nacional de Artes do Brasil, e gerou polémica no final de setembro, ao apelidar a atriz brasileira de 90 anos Fernanda Montenegro de "sórdida" por "deturpar os valores mais nobres da civilização, denegrindo a sagrada herança judaico-cristã".

Em outubro, o dramaturgo afirmou que estava a formar um "exército de grandes artistas espiritualmente comprometidos com o Presidente e com os seus ideais", que estariam dispostos a "dar as suas vidas pela edificação do Brasil, através da criação de obras de arte que redefinam a história da cultura nacional".

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