O verdadeiro rival dos Liberais Democratas na Escócia é o Partido Nacionalista Escocês (SNP), que ficou em segundo lugar nos quatro círculos eleitorais que os 'lib-dem' detêm na região e ainda venceu por apenas dois votos aos 'lib-dem' o círculo eleitoral de North East Fife, um alvo que o partido tem muita esperança em conquistar nas eleições gerais de 12 de dezembro.
Além da questão da saída britânica da União Europeia, que levou à convocação destas eleições antecipadas e é o tema número um da campanha em todo o Reino Unido, a Escócia debate uma outra questão constitucional, introduzida pelo SNP, o partido mais votado na região: a independência da Escócia face ao Reino Unido.
Após a Escócia ter rejeitado a independência num referendo em 2014 por 55% dos votos, o SNP argumenta que o 'Brexit' mudou o panorama e exige um novo referendo, enquanto os liberais democratas rejeitam a independência da Escócia e afirmam-se como "os guardiães da família de nações que é o Reino Unido", como sublinhou hoje Jo Swinson.
Num evento que reuniu dezenas de militantes e ativistas do partido na quinta-feira à noite numa sala de espetáculos da cidade, com exibição de vídeos, música alta e banca de gelados, a líder Liberal Democrata alertou os escoceses de que se os nacionalistas ganharem mais deputados irão "anunciar um referendo sobre a independência dentro de dias", o que é "a última coisa que a Escócia precisa".
"Nos últimos três anos e meio, o SNP (...) viu como é difícil terminar uma união de 40 anos e ainda querem tentar terminar um dos mais de 300 anos", lamentou, num discurso em que ainda acusou o primeiro-ministro britânico de ser "o Trump britânico" -- pelo desrespeito pelas mulheres, as minorias e a verdade - e Jeremy Corbyn, de não querer dizer nada sobre o 'Brexit'.
No seu discurso, a líder Liberal Democrata, que nasceu na escócia e representa no Parlamento um círculo eleitoral da região de Glasgow, na Escócia, acusou o SNP de dizer que quem não é pró-independência não é verdadeiramente escocês, garantindo sentir-se "orgulhosamente escocesa, britânica e europeia".
"Estou absolutamente determinada a manter o Reino Unido junto (...) Somos mais fortes juntos", afirmou,
O partido quer atrair na Escócia os eleitores que votaram não à independência da Escócia face ao Reino Unido e não ao 'Brexit' e está confiante de que vai aumentar o número de deputados eleitos no Reino Unido -- atualmente são 12 - e na Escócia, onde o partido elegeu quatro deputados nas últimas eleições.
Em declarações à Lusa, o responsável pela campanha dos liberais democratas na Escócia, Alex Cole-Hamilton, disse que o partido espera eleger mais um ou dois deputados na Escócia e ampliar o grupo parlamentar para 30, "para privar Boris Johnson da sua maioria".
No entanto, as sondagens não são tão otimistas.
Uma sondagem divulgada na semana passada pelo YouGov mostra que, embora aumentem em percentagem dos votos na Escócia, de 8% para 14%, os liberais democratas só deverão conseguir eleger mais um deputado do que nas últimas eleições.
O politólogo Michael Keating atribuiu a perspetiva menos otimista dos liberais democratas a erros que na sua opinião foram cometidos nesta campanha, nomeadamente o facto de o partido ter começado por anunciar que Jo Swinson era candidata a primeira-ministra, quando o partido nunca foi governo e nunca foi o segundo mais votado, e também por ter prometido terminar o 'Brexit' sem um referendo.
"Penso que as pessoas tomaram isso como injusto", disse numa entrevista à Lusa.
Alex Cole-Hamilton explicou que quando esse objetivo foi lançado, no verão passado, as sondagens previam cerca de 20% dos votos para cada um dos três principais partidos, pelo que os Liberais Democratas decidiram arriscar: "´É preciso ser ousado, corajoso e otimista".
Quanto à questão do 'Brexit', o dirigente disse que na altura o Governo britânico não tinha um acordo para a saída, Boris Johnson pedia um mandato para uma saída sem acordo e "o povo merecia uma contraoferta".
Militantes com quem a Lusa falou na ação de campanha de quinta-feira à noite mostraram-se divididos quanto à opção de propor rasgar o artigo 50.º, que permite a saída do Reino Unido da UE, sem ouvir o eleitorado.
Com uma boina azul com 12 estrelas amarelas, a professora universitária Elisabeth Wilson, de 71 anos, considerou que a proposta foi verdadeira e que os seus efeitos ficam para verificar depois das eleições.
Já o engenheiro eletrónico Theo Scott, de 25, questionou se teria sido a melhor estratégia: "Penso que temos de construir pontes para as pessoas que não votariam necessariamente em nós".
Ambos pareciam no entanto confiantes de que os 'Lib Dem' vão ganhar deputados nestas eleições.