"Eles abriram as portas com recurso a catanas e martelos. Mandar-me embora como se estivessem a empurrar um cão", declarou à Lusa Horácio Júlio, um dos integrantes do grupo que contesta a liderança da principal força política de oposição em Moçambique, à porta da sede do partido, em Maputo.
O grupo de ex-guerrilheiros, que já submeteram duas cartas de protesto, exige a realização do Conselho Nacional para eleição de uma nova direção, considerando que os resultados do partido nas últimas eleições revelam "incompetência e má gestão".
A Renamo perdeu o estatuto da segunda força política mais votada nas eleições gerais de 09 de outubro, caso os resultados já anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) prevaleçam após o posicionamento do Conselho Constitucional (CC), última instância de recurso em contenciosos eleitorais.
"Será que eles estão satisfeitos com os votos que a Renamo conseguiu? Este é um partido grande e isso não faz sentido. O partido perde eleições e o presidente não fala nada, como é possível", questionou Horácio Júlio.
O desentendimento entre o grupo que exige uma nova liderança e os seguranças de Ossufo Momade gerou um ambiente de tensão à porta da sede do partido, na avenida Ahmed Sékou Touré, centro de Maputo, com as partes a trocarem insultos.
Na sexta-feira, além do encerramento da sede do partido na capital moçambicana, os ex-guerrilheiros da Renamo tinham orientado as delegações provinciais e distritais também a fecharem as portas a partir de hoje.
Em Chimoio, capital provincial de Manica (centro), os apoiantes de Ossufo e os ex-guerrilheiros envolveram-se em confrontações físicas à porta da delegação provincial, episódios filmados pelo público que passava pelo local.
"Estes membros , por sinal ex guerrilheiros da Renamo, envolveram se em pancadaria quando uma ala tentava ocupar e encerrar a sede em contestação à permanência do Ossufo Momade como presidente", explicou à Lusa Elias Mazia, ex-guerrilheiro e membro da Renamo naquela província .
A Lusa tentou, uma vez mais, sem sucesso, falar com o departamento de comunicação da Renamo, que havia prometido um pronunciamento hoje após uma reunião de quadros do partido.
Em 28 de novembro, o partido assumiu não ter datas para a realização do Conselho Nacional exigido pelos ex-guerrilheiros, apontando a falta de fundos e a proclamação dos resultados das eleições de 09 de outubro pelo Conselho Constitucional (CC), previsivelmente na segunda-feira, como condicionantes.
Ossufo Momade, cuja liderança já tinha sido questionada em momentos anteriores, assumiu a liderança da Renamo após a morte do líder histórico e fundador do partido Afonso Dhlakama (1953--2018).
Momade também foi candidato nas eleições gerais de 09 de outubro de 2024 ao cargo de Presidente da República, obtendo, segundo os números da CNE, 5,81% dos votos, o pior resultado de um candidato apoiado pelo partido que foi principal força de oposição em Moçambique desde as primeiras eleições, 1994.
Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, ficou com 70,67% dos votos, e Venâncio Mondlane, ex-deputado da Renamo que abandonou o partido após desavenças com Momade, ficou em segundo lugar, com 20,32%, tendo, em terceiro, estado Lutero Simango, presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM, terceiro partido parlamentar), com 223.066 votos (3,21%).
Durante 16 anos, Moçambique viveu uma guerra civil, que opôs o exército governamental e a Renamo, tendo terminado com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre o então Presidente Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, líder histórico da Renamo, abrindo-se, assim, espaço para as primeiras eleições, dois anos depois.
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