Bruxelas dividida entre zelo nas instituições da UE e passividade belga
Na capital da Bélgica e da União Europeia (UE), as medidas de prevenção face ao surto de Covid-19 variam, com o zelo demonstrado pelas instituições europeias a contrastar com as poucas medidas restritivas adotadas pelas autoridades belgas.
© Reuters
Mundo Covid-19
Enquanto as instituições da UE têm progressivamente reforçado as medidas de prevenção, com destaque para o Parlamento Europeu, que na próxima semana estará basicamente 'parado', na Bélgica a vida prossegue quase normalmente, tendo o governo federal recomendado mesmo, na terça-feira, que os estabelecimentos de ensino permaneçam abertos mesmo que haja casos de infeção entre docentes ou alunos e dado 'luz verde' a jogos de futebol com público nas bancadas.
Num caso e noutro, as decisões não são uniformes, já que, a nível comunitário, cada instituição decide as medidas sanitárias preventivas que adota, e, a nível nacional, as diferentes regiões da Bélgica -- Flandres (neerlandesa, norte), Valónia (francófona, sul) e região bilingue de Bruxelas -- também fazem uma gestão diferente das recomendações emitidas pelo governo federal.
Em comum, as instituições europeias têm a adoção de políticas com vista a reduzir ao mínimo o risco de contágio, designadamente através do cancelamento de eventos e atividades consideradas não essenciais, a recomendação a funcionários para trabalharem à distância e a redução do número de pessoas participantes nas reuniões que se mantêm agendadas. Até ao momento, foram detetados dois casos positivos no Conselho e um no Parlamento (de um formador externo).
O Parlamento Europeu é a instituição que, até ao momento adotou medidas mais drásticas, tendo transferido duas sessões plenárias da localidade francesa de Estrasburgo para Bruxelas, reduzido as sessões, vedado o acesso a visitantes e suspendido votações, para evitar a concentração de mais de sete centenas de eurodeputados no hemiciclo, pois está em vigor uma recomendação para deputados e restantes funcionários procurarem manter pelo menos um metro de distância para outras pessoas.
Para a instalação de um novo sistema de votação, o Parlamento Europeu -- cujo presidente, David Sassoli, está voluntariamente de quarentena, por se ter deslocado a Itália no passado fim de semana -- suspendeu mesmo toda a atividade parlamentar na próxima semana.
Por seu lado, o Conselho decidiu na terça-feira cancelar duas reuniões ministeriais previstas para esta semana, um Conselho de ministros do Comércio, na quinta-feira, e uma reunião de ministros da Justiça, na sexta, tendo também reduzido o número de reuniões internas e de participantes nas mesmas e suspendido ações de formação.
Na Comissão Europeia, o panorama é semelhante, mantendo-se as conferências de imprensa diárias, mas desde terça-feira que há um registo voluntário dos jornalistas promovido pelo executivo comunitário para ajudar a detetar e informar as pessoas no caso de infeção entre um dos participantes nos eventos, uma iniciativa que o Parlamento também já havia adotado.
Em todas estas instituições há panfletos espalhados um pouco por todo o lado com conselhos de cuidados de higiene básicos.
Com as instituições europeias a trabalharem assim a 'meio gás' e de forma condicionada, o movimento na zona de Schuman -- o 'bairro europeu' de Bruxelas, onde se concentram as sedes da Comissão e do Conselho, e a pouca distância do Parlamento -- segue todavia semelhante àquele que se registava antes do início do surto do novo coronavírus, até porque o plano de prevenção da Bélgica não está a um nível tão elevado quanto o que foi adotado por muitos outros Estados-membros e as novas medidas adotadas na terça-feira praticamente não alteram a vida dos cidadãos, algo confuso com as diretrizes das diferentes autoridades.
"Coronavírus: confusão à belga", lê-se hoje na manchete do jornal Le Soir, que tenta fazer um apanhado das novas medidas anunciadas na véspera pelo governo federal, que são tudo menos fáceis de interpretar, num país sistematicamente 'partido ao meio', entre flamengos e francófonos, e com vários poderes autónomos.
A medida mais 'mediática' anunciada foi a proibição de eventos em recintos fechados com mais de 1.000 pessoas, o que significa que os eventos ao ar livre, como os jogos dos campeonatos de futebol continuam abertos ao público, ao contrário do que sucede na maioria dos países vizinhos. E mesmo esta medida só se aplica à Região de Bruxelas e à Valónia, enquanto na Flandres as autorizações serão analisadas caso a caso, tendo já o líder nacionalista flamengo e autarca de Antuérpia, Bart de Wever, anunciado que não seguirá as recomendações do Governo federal.
A nível das escolas, a orientação dada então pelo Governo federal é que estas permaneçam abertas, mesmo sendo registados casos de infeção, sendo apenas recomendado o adiamento de viagens escolares.
Um inquérito levado a cabo pela associação de consumidores Test Achats, hoje divulgado, no dia em que foi registada a primeira vítima mortal por Covid-19 na Bélgica, revela que, enquanto mais de metade dos belgas receiam ser contaminados, apenas um terço dizem confiar nas autoridades relativamente à sua gestão e controlo da epidemia.
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