"O setor está de pantanas e altamente preocupado. Se fecham as padarias, não sei como é que vai ser", disse à agência Lusa a secretária-geral da Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares (ACIP).
Afirmando que "as padarias estão a funcionar a meio gás e porque têm respeito pelos clientes, que precisam de pão", Graça Calisto diz que há "bastantes estabelecimentos já fechados, alguns por opção, outros por falta de clientes e outros por falta de trabalhadores".
Em muitos casos, diz, "faltam funcionários, que têm medo de ir ou têm filhos menores", até porque o setor é sobretudo constituído por "empresas familiares, em que alguém tem de ficar em casa com os filhos".
Quanto à procura de pão, a dirigente associativa diz que "não tem aumentado", até pelo contrário.
"Há muito menos clientes e compram pão para dois ou três dias para não irem várias vezes ao estabelecimento. E diminuindo os clientes, diminuem as vendas. Isto está muito complicado", sustenta.
Salientando que o setor produz "um bem essencial, que é a base da alimentação de muita gente, sobretudo nas aldeias", a secretária-geral da ACIP diz que a associação está "a preparar um pedido de ajuda ao Governo", em "moldes e termos a decidir até ao final da semana".
"Neste momento o que os industriais pedem é tempo e ajuda para poderem pagar todos os compromissos assumidos. Necessitam de tempo, de mais tempo, precisam que os bancos deem mais tempo, que o IVA dê mais tempo, que o IRC dê mais tempo, precisam de mais tempo para os encargos com a Segurança Social. Ninguém quer ficar dever nada a ninguém, queremos é tempo para poder fazer face à crise", sustenta.
Com "as mesas dos estabelecimentos vazias", Graça Calisto questiona quais as opções das padarias: "Se não conseguirmos fazer face à crise o que vamos fazer? Despedir os trabalhadores? Não pagamos ordenados? O que é que pagamos primeiro, os ordenados aos trabalhadores, à Segurança Social, os empréstimos ou as rendas?", interroga.
Segundo dados avançados pela ACIP, o setor português da panificação é constituído por cerca de 8.000 empresas, sobretudo microempresas, que dão emprego a 120 mil trabalhadores.
Portugal está em estado de alerta desde sexta-feira, e o Governo colocou os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão.
Entre as medidas para conter a pandemia, o Governo suspendeu as atividades letivas presenciais em todas as escolas desde segunda-feira e impôs restrições em estabelecimentos comerciais e transportes, entre outras.
O Governo também anunciou o controlo de fronteiras terrestres com Espanha, passando a existir nove pontos de passagem e exclusivamente destinados para transporte de mercadorias e trabalhadores que tenham de se deslocar por razões profissionais.