Em Bagdad, a segunda capital mais populosa do mundo árabe, com 10 milhões de habitantes, os peregrinos convergiram para o mausoléu dourado do imã Kazem -- o sétimo dos 12 imãs duodecimais -- nas margens do rio Tigre.
Há vários dias que iraquianos a pé, de camelo ou cavalo se dirigiram para o bairro santo de Kazimiya (norte), onde se encontra o mausoléu.
Hoje encontravam-se no local dezenas de milhares de pessoas "de Bagdad e outras províncias do Iraque", indicou à agência France Presse uma fonte das autoridades encarregadas do local sagrado.
"É o primeiro ano em que há tão poucos peregrinos e pela primeira vez não há estrangeiros", adiantou. Todos os anos, milhares de xiitas iranianos deslocam-se ao Iraque para as diferentes peregrinações xiitas.
O Iraque proibiu há um mês as viagens para e do Irão, um dos países mais afetados no mundo pela epidemia da Covid-19, com mais de 1.500 mortos.
Para a peregrinação do imã Kazem, os fiéis não puderam este ano "entrar no interior do mausoléu, embora alguns tenham tentado", indicou o responsável à AFP.
Em Nassiriya, cidade do sul xiita, centenas de peregrinos transportaram uma urna simbólica para assinalar o martírio do imã Kazem, que morreu envenenado na prisão pelo califa Harun al-Rachid em 799.
O Iraque, cujo sistema de saúde regista uma penúria crónica de médicos e medicamentos, encerrou todos os locais sagrados e o grande ayatollah Ali Sistani proibiu as orações coletivas.
Através de uma comunicação televisiva do seu representante Ahmed al-Safi na sexta-feira, Sistani recordou as instruções do governo para os iraquianos ficarem em casa e evitarem as reuniões, sem conseguir convencer os milhares de peregrinos que hoje saíram para as ruas.
O influente líder xiita Moqtada al-Sadr, no entanto, apelou aos seus apoiantes para participarem na peregrinação.
O Iraque já anunciou a morte de 17 pessoas e a contaminação de 208 outras devido ao coronavírus, mas os números podem ser mais altos dado que apenas 2.000 pessoas foram testadas no país de 40 milhões de habitantes.