Protestos marcam imposição de quarentena a passageiros em Timor-Leste
Residentes de uma zona do leste de Díli cortaram hoje a eletricidade e a água a um hotel onde as autoridades de saúde timorenses pretendem instalar em quarentena obrigatória passageiros que chegaram hoje ao país.
© Reuters
Mundo Covid-19
Os protestos, que se reduziram depois da chegada de reforços policiais, ocorreram quando os autocarros com passageiros vindos do aeroporto chegaram ao hotel, tendo havido alguns apedrejamentos.
Em causa estava um grupo de passageiros provenientes de dois voos entre Bali e Díli, alguns dos quais, à chegada, e em declarações à imprensa timorense, se mostraram favoráveis à quarentena, considerando ser necessária como medida preventiva da covid-19.
Pela primeira vez, o Governo de Timor-Leste tentou hoje aplicar a quarentena obrigatória a passageiros que chegaram hoje a Timor-Leste, primeiro a um grupo que viajou de Singapura e, posteriormente, a grupos que viajaram da Indonésia.
Testemunhas ouvidas pela Lusa confirmaram que os primeiros problemas se evidenciaram logo pela manhã no aeroporto de Díli, relativamente aos onze passageiros que viajaram de Singapura, a maioria timorenses.
Inicialmente o grupo ia ser levado para um espaço único para a quarentena, mas, posteriormente, acabaram por poder sair livremente e seguir para as suas casas.
No caso dos passageiros provenientes da Indonésia, porém, o grupo foi levado para o hotel, numa medida que suscitou grandes protestos da comunidade local, à semelhança do que tem ocorrido com outros espaços identificados pelo Governo para criar centros de acolhimento ou isolamento para a covid-19.
A agência de notícias timorense Tatoli reportou que se trata de um grupo de 93 cidadãos timorenses e estrangeiros e que o chefe de suco (freguesia) da zona (Metiaut), Julião da Costa, criticou o facto de as autoridades não terem informado antecipadamente a comunidade.
"O Ministério da Saúde não me deu conhecimento da decisão de usar o hotel para a quarentena", disse.
Fidelis Magalhães, ministro da Reforma Legislativa e Assuntos Parlamentares, explicou à Lusa que o Governo tem estado a trabalhar para identificar locais onde acolher passageiros em quarentena.
"Estamos a trabalhar para esta questão e para outros aspetos que vão ser discutidos na reunião do Conselho de Ministros na segunda-feira", afirmou.
Numa curta publicação na sua página no Facebook o ex-primeiro-ministro e ex-ministro da Saúde Rui Maria de Aráujo manifestou "tristeza pela forma como a comunidade local reagiu" à colocação do grupo no hotel, questionando: "e a autoridade, onde está?".
A Lusa tentou contactar sem êxito o Ministério da Saúde e o proprietário do hotel.
Em declarações à Lusa, Mari Alkatiri, ex-primeiro-ministro e atual secretário-geral da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin) -- maior partido do parlamento e atualmente na oposição -- criticou a gestão que tem sido feita do processo.
"A questão fundamental é que o Ministério competente na área desta calamidade sanitária não tem sabido gerir a situação em termos de interação com as populações. Não há disseminação, não há educação, não há informação prévia e fazem decisões sem sequer coordenar a autoridade de segurança", sublinhou.
"Qualquer Governo é sempre uma instituição integrada. Fundamentalmente quando se trata de questões tão sensíveis como esta. No início não havia segurança e a polícia só chegou mais tarde", referiu.
Alkatiri mostrou-se esperançado que a intervenção policial devolva a situação à normalidade.
"As pessoas têm que ser acolhidas numa situação o mais normal possível nesta quarentena. Não serem recebidos com pedradas, vidros partidos e ameaças de que os protestos vão continuar se o Governo mantiver esta posição [de usar o local]", acrescentou.
Alkatiri explicou que defendeu já várias vezes no passado que "hotéis às moscas deveriam ter sido aproveitados para fazer desses hotéis, hotéis-hospitais".
"Os hotéis ficam a ganhar e o povo também porque o que queremos é tratar dos potenciais portadores e depois dos pacientes", considerou.
Timor-Leste tem até ao momento um caso confirmado de Covid-19.
Depois de surgir na China, em dezembro de 2019, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu tornou-se o epicentro da pandemia, com a Itália a ser o país do mundo com maior número de vítimas mortais (4.825), o que levou vários países a adotarem medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.
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