Guiné: Comércio informal sofre impacto imediato e pobreza pode aumentar
O analista guineense Santos Fernandes afirmou hoje à Lusa que o comércio informal na Guiné-Bissau vai sofrer o "impacto imediato" das medidas de luta contra a covid-19 e que a pobreza deverá aumentar.
© Lusa
Mundo Guiné-Bissau
Segundo Santos Fernandes, a economia guineense é "extremamente informal", o que "significa dizer que os agentes que atuam na informalidade" vão sofrer os "impactos imediatos".
"Aqueles agentes são essencialmente mulheres e jovens que não conseguem ter acesso a emprego formal digno e estão na precariedade", sublinhou o analista.
Aquelas pessoas são as que sustentam as famílias e "todos sofrerão o impacto a curto prazo" e as autoridades devem "criar medidas conducentes, em termos de subvenções", para impedir o aumento da pobreza que deverá "agudizar-se com os efeitos da covid-19", afirmou.
"A informalidade guineense é reflexo da nossa desestruturação do ponto de vista económico", salientou também o analista.
Considerado um dos países mais pobres do mundo, a economia informal da Guiné-Bissau é dominada pelas mulheres, que representam a maior parte da população do país, e que garantem, na maior parte dos casos, a subsistência diária das suas famílias.
No âmbito do combate à pandemia, as autoridades no poder na Guiné-Bissau decidiram declarar o estado de emergência, mas antes já tinham encerrado fronteiras, escolas, restaurantes e outro tipo de comércio local, bem como proibir a circulação de transportes públicos.
Os bens de primeira necessidade só podem ser adquiridos entre as 07:00 e as 11:00 locais (menos uma hora que em Lisboa).
No domingo, as autoridades confirmaram a existência de oito casos positivos para Ccvid-19.
A pandemia do novo coronavírus atingiu a Guiné-Bissau numa altura em que o país vive mais uma crise política, iniciada após a realização de eleições presidenciais em dezembro.
Em fevereiro, o general Umaro Sissoco Embaló, dado como vencedor das eleições pela Comissão Nacional de Eleições, foi autoproclamado Presidente do país, enquanto decorre no Supremo Tribunal de Justiça um recurso de contencioso eleitoral apresentado pela candidatura de Domingos Simões Pereira.
Umaro Sissoco Embaló tomou posse numa cerimónia dirigida pelo vice-presidente do parlamento do país Nuno Nabian, que acabou por deixar aquelas funções, para assumir a liderança do Governo nomeado pelo autoproclamado Presidente.
O Governo liderado por Nuno Nabian ocupou os ministérios com o apoio de militares, mas Sissoco Embaló recusa que esteja em curso um golpe de Estado no país e diz que aguarda a decisão do Supremo sobre o contencioso eleitoral.
Na sequência da tomada de posse de Umaro Sissoco Emabaló e do seu Governo, os principais parceiros internacionais da Guiné-Bissau apelaram a uma resolução da crise com base na lei e na Constituição do país, sublinhando a importância de ser conhecida uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça sobre o recurso de contencioso eleitoral.
As medidas impostas pelas autoridades têm sido criticadas por vários analistas por não considerarem a precariedade existente no país e não serem acompanhadas de medidas tendentes a minimizar o seu impacto junto da população.
O número de mortes causadas pela covid-19 em África subiu para 148 com o número de casos acumulados a aproximar-se dos 5.000 em 46 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia.
Na Guiné-Bissau estão confirmados oito casos da covid-19.
O número de mortes em África subiu para 173, com os casos confirmados a ultrapassarem os 5.000 em 48 países, de acordo com as estatísticas sobre a doença no continente.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 828 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 41 mil.
Dos casos de infeção, pelo menos 165 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
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