Fátima, enfermeira do hospital Alcorcón em Madrid, batalha na linha da frente contra um inimigo invisível. Pela sua mão passam diariamente dezenas de casos de infetados por Covid-19. A sua família, como tantas famílias de profissionais hospitalares, está em casa, mas ela vive num quarto de hotel.
Para proteger o seu pai idoso, a sua mãe com Alzheimer e duas filhas adolescente, Fátima vive isolada dos que mais ama e rodeada de um mundo de incerteza, de vida e de morte, de superação, cansaço, exaustão e desilusão.
Num relato impressionante, feito ao El País, esta trabalhadora oferece um vislumbre da montanha psicológica que enfrenta diariamente enquanto profissional de saúde.
“Ontem, no meu turno, vi pela primeira vez como a vida e a morte se entreolham num piscar de olhos. Eu tive que ajudar a vestir e despir famílias trémulas a quem a morte olhou nos olhos, sem aviso prévio. Apertei a mão de uma mulher antes de lhe dar a medicação para que um ventilador respirasse por ela. Eu disse: 'Vai tudo ficar bem', e eu falhei com ele. A morte venceu novamente. Saí para a rua gritar, chorar e ouvir a voz da pessoa que está dando sentido a todos esses dias”, explicou.
A lutar contra uma doença que no país vizinho já roubou quase 12 mil vidas, Fátima vive em stress permanente, uma versão defendida pelo psicóloga María Mayoral, do hospital Gregorio Marañón, em Madrid.
“Eles vêem que as pessoas pioram da noite para o dia e morrem. Cria muita incerteza, uma sensação de falta de controlo. Eles têm medo de ser contagiados e de infectar os seus. Isso cria culpa e isolamento para eles”, defendeu esta médica.