China exige retratação do Brasil por comentário "racista" de ministro

As autoridades chinesas exigiram hoje uma retratação do Brasil após um comentário do ministro da Educação brasileiro que o país asiático descreveu como "fortemente racista" e que disse causar "influências negativas" nas relações entre os dois países.

Notícia

© iStock

Lusa
06/04/2020 16:55 ‧ 06/04/2020 por Lusa

Mundo

Covid-19

"O lado chinês aguarda uma declaração oficial do lado brasileiro sobre as palavras do Ministro da Educação, membro do Governo brasileiro. Estamos cientes de que nossos povos estão do mesmo lado para resistir a palavras racistas e salvaguardar nossa amizade", escreve o embaixador da China em Brasília, Yang Wanming, numa publicação na rede social Twitter relativo a um protesto oficial da embaixada chinesa.

A discórdia foi causada por uma mensagem do ministro da Educação brasileiro, Abraham Weintraub, que usou a personagem Cebolinha da banda desenhada "Turma da Mónica" para sugerir que a pandemia do novo coronavírus faz parte de um "plano infalível" da China para dominar o mundo.

"Geopoliticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?", escreveu Weintraub, este domingo, na sua conta na rede social Twitter.

Cebolinha, uma das personagens infantis mais populares do Brasil, tem problemas de dicção e troca a letra "r" pela letra "l" ao falar, algo que é atribuído aos chineses quando tentam falar português.

O ministro apagou depois a mensagem no domingo.

Num comunicado oficial, também publicado no Twitter, a embaixada da China sustentou que o governante brasileiro, "ignorando a posição defendida pelo lado chinês em vários esforços, fez declarações difamatórias contra o país nas redes sociais e estigmatizou Pequim ao associá-lo à origem da covid-19".

"Deliberadamente elaboradas, essas declarações são totalmente absurdas e desprezíveis, têm um selo fortemente racista e objetivos indizíveis e causaram influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais", acrescentou a nota da embaixada chinesa.

A delegação diplomática do país asiático expressou "forte indignação e repúdio à atitude" do ministro da Educação e instou "algumas pessoas no Brasil" a "imediatamente corrigir os erros cometidos e suspender suas acusações infundadas contra a China".

No final de março, Eduardo Bolsonaro, filho do Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, acusou a China de ter gerado a crise ao esconder informações sobre a disseminação do novo coronavírus, que causa a doença covid-19.

Uma mensagem publicada no Twitter pelo filho do Presidente brasileiro dizia que "aqueles que assistiram [à série de televisão] 'Chernobyl' entenderão o que aconteceu. Substitua a usina [central] nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pelos chineses. (...) Uma ditadura preferia esconder algo sério do que expô-la com desgaste, mas isso salvaria inúmeras vidas. (...) A culpa é da China e a liberdade seria a solução", escreveu, então.

Na ocasião, o embaixador chinês expressou "repúdio" e "indignação" pelas declarações de Eduardo Bolsonaro e exigiu desculpas, mas nem ele nem o Ministério das Relações Exteriores do Brasil se retrataram oficialmente.

O chefe da diplomacia brasileira, Ernesto Araújo, esclareceu que Eduardo Bolsonaro não representa o Governo brasileiro e exigiu uma retratação do embaixador pela sua reação enérgica às declarações do filho do Presidente brasileiro, que ele considerou "inaceitáveis".

Jair Bolsonaro, por sua vez, preferiu atenuar a controvérsia e garantiu que as declarações de seu filho não causaram nenhuma crise diplomática, adiantando ter conversado com as autoridades chinesas sem que o assunto fosse mencionado.

O último balanço divulgado pelo Ministério da Saúde brasileiro no domingo indicou o país teve 486 mortes causadas pela covid-19 e já confirmou 11.130 casos da doença.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 70 mil.

Dos casos de infeção, mais de 240 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

 

Partilhe a notícia

Produto do ano 2024

Descarregue a nossa App gratuita

Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.

* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com
App androidApp iOS

Recomendados para si

Leia também

Últimas notícias


Newsletter

Receba os principais destaques todos os dias no seu email.

Mais lidas