Casas-Zamora mostra-se "chocado" com a falta de coordenação, dentro da União Europeia, para combater a pandemia covid-19 e considera que os líderes europeus perderam uma excelente oportunidade para mostrar a relevância do projeto comunitário.
"A falta de solidariedade e de coordenação entre os países, a que estamos a assistir, vai criar a tempestade perfeita para o reforço dos nacionalismos e dos populismos na Europa", afirmou Casas-Zamora, numa entrevista à Lusa.
Kevin Casas Zamora - secretário-geral do Instituto Internacional para a Democracia e Apoio Eleitoral (IDEA), uma organização intergovernamental baseada em Estocolmo que integra 24 países, incluindo Portugal, com o objetivo de refletir sobre a sustentabilidade das democracias -- considera que a União Europeia está a falhar por ausência.
"Não se ouve uma palavra das cúpulas da União Europeia! A Comissão Europeia, que devia estar a liderar este combate (contra a pandemia), desapareceu. Ou me está a escapar alguma coisa, ou confesso que não entendo", confessou Casas-Zamora.
Na sua perspetiva, esta falta de coordenação vai ter um preço caro, ao nível da eficácia na travagem da propagação do novo coronavírus, mas também ao nível da confiança dos europeus nas instituições.
"Esta crise vai gerar uma rejeição da globalização e das organizações internacionais", preocupa-se Casas-Zamora, que foi até há pouco tempo membro da Comissão Presidencial para a Reforma do Estado, na Costa Rica, foi coordenador nacional deste país para o Programa de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas e tem desempenhado a função de consultor junto de governos e organizações.
"E isso é o terreno mais favorável para o crescimento dos sentimentos nacionalistas e das ideias populistas", conclui o líder do IDEA, referindo-se à impopularidade das instituições europeias junto dos eleitores, perante a falta de respostas à crise económica, política e social que se seguirão à pandemia.
"A crise vai levar a medidas mais draconianas contra a imigração. Vai gerar pressão que favorecerá as ideias mais radicais e mais populistas", disse Casas-Zamora, mostrando particular preocupação com os fenómenos de subversão das democracias.
Em termos geopolíticos, o líder do IDEA considera que os países europeus sentirão uma mudança em termos de liderança mundial, que passará dos Estados Unidos para a China, e se aproximarão da influência global chinesa.
Casas-Zamora acredita que, quando assentar a poeira da crise sanitária, a China se afirmará como a nova grande potência mundial, marcando o fim do Século Americano, perante a falência do sistema político e económico dos EUA, incapaz de dar uma resposta eficaz à pandemia.
"Nessa altura, alguns países europeus tenderão a aproximar-se da esfera de influência da China", conclui Casas-Zamora, referindo-se às alterações nos equilíbrios de poder a nível mundial, cujo tabuleiro político terá uma nova configuração.