"Quando a poeira assentar, daqui a uns dois anos, assistiremos ao fim do Século Americano. Nessa altura, a China irá emergir como o maior 'player' da cena internacional", disse Kevin Casas-Zamora, em entrevista à Lusa, referindo-se ao que considera ser o provável desmoronamento da prevalência do sistema político, económico e social dos Estados Unidos.
Kevin Casas-Zamora - secretário-geral do Instituto Internacional para a Democracia e Apoio Eleitoral (IDEA), uma organização intergovernamental baseada em Estocolmo que integra 24 países, incluindo Portugal, com o objetivo de refletir sobre a sustentabilidade das democracias -- considera que este facto terá enormes repercussões a nível mundial e em particular para as democracias.
"O impacto do fim do Século Americano nas democracias será imenso. No século XX, tivemos o mundo liderado por uma democracia liberal. No século XXI teremos um mundo liderado por uma ditadura", explica Casas-Zamora, que acredita que a China se afirmará como a grande potência das próximas décadas.
O líder do IDEA considera que a atual crise sanitária irá colocar a nu as fragilidades do sistema norte-americano - em todas as suas vertentes, política, económica e social - que entrará em falência ao mostrar a sua incapacidade para lidar com os efeitos trágicos da pandemia, que já provocou mais de 10.000 mortos naquele país.
"A crise vai expor a impotência do sistema, a sua enorme fragilidade, que já vinha de trás", disse Casas-Zamora.
O secretário-geral do IDEA considera que a primeira vítima política deste desabamento pode ser o próprio Presidente dos EUA, Donald Trump.
"Dificilmente Trump poderá ser reeleito", acredita Casas-Zamora, dizendo que o Presidente não vai conseguir aguentar por muito tempo a ideia de que as falhas no combate à pandemia não são da sua responsabilidade.
"Para já, Trump tem conseguido fazer 'spin', nos canais de televisão, tem andado a atirar as culpas para o lado. Mas vai chegar um momento em que as pessoas vão culpar o Presidente e em que ele terá dificuldade em se defender", explica o líder do IDEA.
A dúvida de Casas-Zamora reside na eficácia da oposição para tirar proveito dessa situação, a poucos meses das eleições presidenciais onde é cada vez mais provável uma candidatura do ex-vice-Presidente Joe Biden pelo Partido Democrata, para disputar a Casa Branca com Donald Trump.
"Teremos de ver (o que será capaz de fazer Biden). A minha certeza é a de que as atenções se vão centrar em Trump e que ele terá muita dificuldade em se defender", refere Casas-Zamora, sobre o que considera ser a avalancha de críticas da população, quando ficar evidente que o Governo não consegue travar o impacto mortal da pandemia.
"A capacidade de Trump de fazer 'spin' de atirar culpas para o lado vai ser muito limitada", explica, dizendo que a possibilidade de reeleição do Presidente é diminuta.
"Ele está a sugar todo o oxigénio, no seu púlpito mediático. Não poderá fazer isso por muito mais tempo", conclui Casas-Zamora.