A agência noticiosa Associated Press revela, esta quarta-feira, o conteúdo de uma série de documentos que apontam para que a China tenha mantido em segredo quais os reais perigos do surto do novo coronavírus durante um espaço de seis dias.
De 5 a 17 de janeiro, centenas de pacientes deram entrada em unidades hospitalares, não só de Wuhan, como de todo o território, com sinais de infeção por aquilo que, mais tarde, seria dado a conhecer ao mundo como Covid-19.
Foi então que, no dia 14 de janeiro (um dia após o primeiro caso ter sido detetado na Tailândia) o ministro da Comissão Nacional de Saúde, Ma Xiaowei, participou numa videoconferência confidencial, onde avisou vários responsáveis, entre eles Xi Jinping, para o cenário.
"A situação de epidemia é ainda muito severa e complexa. É o desafio mais severo desde a SARS, em 2003, e é provável que se transforme num grande evento de saúde pública", são as palavras atribuídas a Ma Xiaowei.
No entanto, só no dia 20 do mesmo mês, quando o país já começara a distribuir testes e a pedir que todos os casos fossem reportados, é que o presidente chinês acabaria por abordar este assunto publicamente, assumindo que o surto deveria ser "levado muito a sério".
A publicação cita um estudo que estima que, caso este alerta tivesse sido uma semana antes, acompanhado das respetivas indicações de distanciamento social, restrição de movimentos e uso de máscaras, o mundo poderia ter, neste momento, até menos dois terços dos casos.
Dali Yang, professor de política chinesa na Universidade de Chicago, aponta o rígido controlo da informação por parte do governo como causa para esta demora: "Os médicos de Wuhan tinham medo. Foi uma verdadeira intimidação de toda uma profissão".