Estudante de saúde cria plataforma para envio de cartas a idosos nos EUA
A norte-americana Irene Hoang, que está a preparar-se para se tornar assistente médica, criou a plataforma Sunshine Letters para levar cartas a idosos isolados pela pandemia em lares, casas de saúde e repouso.
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Mundo Covid-19
A iniciativa já angariou 200 voluntários que estão a corresponder-se com idosos em quatro instalações da Califórnia: uma em Belmont, perto de São Francisco, duas em Orange County e uma em Los Angeles.
"O objetivo é promover o bem-estar mental e físico dos idosos na comunidade através de interações sociais", disse à agência Lusa Irene Hoang, notando que "as primeiras pessoas a serem isoladas foram os idosos", por serem a faixa da população mais vulnerável à pandemia da covid-19.
A sua intenção é expandir a rede de lares e residências sociais e alargar o número de destinatários, partindo dos efeitos positivos que a primeira remessa de missivas obteve junto dos idosos e o entusiasmo nas cartas de resposta.
"Não estava à espera que isto tivesse uma resposta tão grande", afirmou a fundadora do projeto, que pretende mais tarde distribuir cartas noutras línguas, além do inglês, depois de ter começado a ser contactada por pessoas noutros países.
Além dos voluntários, a estudante está a coordenar a iniciativa com professores que pretendem criar projetos de escrita para os seus alunos em aulas por videoconferência.
Hoang, de 28 anos, tem ainda um projeto paralelo para enviar notas de agradecimento aos profissionais de saúde que estão nas linhas da frente em Nova Iorque e Los Angeles, dois dos maiores focos de infeção da covid-19 nos Estados Unidos.
Vai também produzir 't-shirts' com o logotipo que criou para a SunshineLetters.org e usar as receitas das vendas na aquisição de equipamentos de proteção individual para profissionais de saúde e funcionários dos lares.
"Como país, tornámo-nos muito individualistas e nesta altura precisamos de começar a pensar com uma mentalidade mais coletiva", considerou. "Pensar mais em termos de comunidade, visto que é ela que nos afeta mais", vincou.
A ideia da iniciativa surgiu quando Hoang teve de se isolar dos seus próprios pais para evitar um potencial contágio, já que o trabalho nas urgências hospitalares que faz como parte da sua formação no programa Cope Health Scholars da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA) a colocou em risco de infeção.
Com um histórico de voluntariado em instalações para idosos, Hoang apercebeu-se que o isolamento seria especialmente duro para eles.
"As pessoas nestes locais já têm poucas visitas e agora não podem ter qualquer visita, nem dos voluntários", afirmou.
"Queria que a nossa comunidade, em especial a geração mais jovem, tentasse comunicar com eles e encontrasse a compaixão de pensar para lá das suas necessidades pessoais", acrescentou, dizendo que "esta altura é muito sombria".
A estudante de saúde está a encorajar que as cartas sejam manuscritas mas é possível enviar outras coisas, como os postais por que alguns optaram ou o CD de músicas antigas que um voluntário gravou.
Quem não tiver acesso a papel de carta, selos ou envelopes pode enviar a sua missiva 'online', que será impressa e adicionada ao pacote.
"As cartas em papel são algo que se pode guardar, algo físico e tangível que se pode segurar na mão, em especial para os residentes mais velhos que não estão tão habituados a usar tecnologias", explicou.
O formato é inspirador para uma geração em que esta é uma "arte perdida", considerou, revelando que "muitas pessoas" lhe perguntaram como escrever cartas.
"É interessante ver como as pessoas se desligaram deste tipo de escrita em comparação com as redes sociais", afirmou.
Outra forma que Hoang encontrou de ajudar os idosos isolados é através da doação de puzzles, livros de colorir para adultos, revistas e pequenas atividades de entretenimento.
Quando a crise da covid-19 for debelada, a estudante pretende continuar a plataforma.
"É uma oportunidade de fazer voluntariado à distância", considerou, referindo que quer expandir para lá das casas de repouso e chegar a mais pessoas que estejam em isolamento.
A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 133 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 436 mil doentes foram considerados curados.
Os Estados Unidos são o país com mais mortos (28.326) e mais casos de infeção confirmados (637 mil).
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