O relatório indica que houve uma subida de 23% no número de conflitos em meio rural, devido a disputas por terra e água no país sul-americano, face aos dados obtidos em 2018.
Dos 1.254 conflitos por terra registados no Brasil no ano passado, 1.206 ocorrências envolveram alguma forma de violência, provocada por supostos proprietários de terra ou lenhadores que extraem madeira ilegalmente nas florestas do país, maior número registado pela CPT desde 1985, quando começou esta série de dados.
A falta de acesso à água potável ou a iminência da falta desta causou 489 conflitos, quando no ano anterior ocorreram 276 conflitos deste tipo no Brasil.
Para a CPT, interesses empresariais desencadearam a maioria dos conflitos por água.
O levantamento indicou que o setor de mineração está envolvido em 189 casos (39%) de conflitos por água no país, hidroeléctricas causaram 54 conflitos (11%), enquanto empresários e governos participaram, respetivamente, de 117 (36%) e 33 (7%) conflitos.
Para a organização não-governamental, o "discurso do Presidente da República [Jair Bolsonaro] contra quilombolas [descendente de escravos que vivem em comunidades no campo], indígenas, comunidades tradicionais pode muito bem explicar o avanço da violência no campo em 2019 em relação a 2018".
Dados recolhidos pela CPT nos anos de 2018 e 2019 também indicam que houve um crescimento de 14% no número de assassínios em meio rural, que passaram de 28 para 32.
A grande maioria dos assassínios cometidos em disputas em meio rural brasileiro ocorreram na Amazónia, que registou 27 dos homicídios totais.
As tentativas de assassínio aumentaram 7%, passando de 28 para 30 casos entre 2018 e 2019. Na mesma comparação ano a ano, o número de ameaças de morte subiu 22%, de 165 para 201.
A Amazónia concentrou a maioria dos casos de tentativa de assassínio.
O relatório frisa que a violência na Amazónia brasileira é percebida no aumento de 36% no total de famílias envolvidas em conflitos, que atingiram as 102.732 em 2019, e de 29% de famílias ameaçadas por assassinos contratados, 5.945 o ano passado.
Houve ainda um crescimento de 82% no número de despejos, para 5.977, e um aumento de 55% (para 33.202) de invasões a terras ou casas na região onde está a maior floresta tropical do mundo, segundo o relatório da Comissão Pastoral da Terra.