Intervindo no Fórum Económico Mundial em Davos (Suíça), numa sessão de perguntas e respostas, a ministra de Estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros e dos Expatriados Palestinianos, Varsen Aghabekian Shahin, disse esperar que a nova administração norte-americana olhe para o povo palestiniano "de uma forma diferente" e exortou o Presidente Donald Trump a garantir "uma paz verdadeira", se quer deixar esse legado.
"Os Estados Unidos, o Qatar e Egito trabalharam diligentemente para que conseguíssemos alcançar o cessar-fogo [na Faixa de Gaza]. Sendo um dos mediadores, esperamos que os Estados Unidos monitorizem o acordo e assegurem a responsabilização em caso de violações", disse.
"Também esperamos que os Estados Unidos olhem para nós estrategicamente e olhem para nós como gente merecedora de dignidade e merecedora de gozar dos direitos tais como consagrados na lei internacional", prosseguiu.
Apontando que a Autoridade Palestiniana já disse "muitas vezes" que está pronta a "viver com os vizinhos de Israel em paz e segurança", a ministra sublinhou, no entanto, que tal só será possível "se Israel agir como um Estado normal".
"Não podemos viver em paz e segurança com Israel quando Israel periodicamente lança uma guerra contra os palestinianos em Gaza ou na Cisjordânia. E o que está a acontecer atualmente na Cisjordânia é revelador -- agora que a situação está um pouco melhor na frente de Gaza, está a intensificar-se na frente da Cisjordânia, e ouvimos declarações de líderes israelitas a dizerem que agora é a vez de se virarem para a Cisjordânia e que farão lá o que fizeram em Gaza", advertiu.
Fazendo votos para que "o círculo próximo" do novo Presidente norte-americano lhe dê bons conselhos e explique qual é efetivamente a situação, Varsen Aghabekian Shahin comentou que "se o Presidente Trump quer deixar um legado de paz sustentável, então tem de assegurar que os direitos dos palestinianos são respeitados" e que Israel não viola os temos dos acordos, pois "pode-se anunciar uma paz, ditar uma paz, mas se não for uma verdadeira paz, não vai funcionar".
Intervindo também hoje em Davos, na reunião anual do Fórum que junta as elites económica e política mundiais, o secretário-geral da ONU admitiu recear que Israel tenha a tentação de anexar a Cisjordânia e advertiu que tal comprometeria em definitivo a possibilidade de uma paz verdadeiramente estável no Médio Oriente.
De acordo com Guterres, "há uma situação em que todos ganham: o cessar-fogo mantém-se, os reféns continuam a ser libertados e tem lugar uma distribuição massiva de ajuda".
"Agora esperamos que as próximas fases [do acordo entre Israel e o Hamas] levem a uma situação de cessar-fogo permanente em Gaza, em que possa ser estabelecido um processo de transição em Gaza que permita a reunificação dos territórios palestinianos ocupados e abra caminho a negociações sérias com vista a uma solução política baseada na solução de dois Estados. Esta é a situação em que todos ficariam a ganhar", disse.
O secretário-geral das Nações Unidas advertiu então que há, no entanto, "outra possibilidade, e a outra possibilidade é que Israel, sentindo-se entusiasmada pelos sucessos militares que tem tido, pense que esta é a altura de proceder à anexação da Cisjordânia e manter Gaza numa situação de espécie de limbo com uma forma de governação pouco clara".
"É claro para mim que Israel não está fundamentalmente interessada em Gaza, está fundamentalmente interessada na Cisjordânia. Ora, isso seria uma violação total da lei internacional e criaria uma situação em que os acordos de Abraão [de 2020] ficariam completamente minados e significaria que nunca teríamos uma paz realmente estável no Médio Oriente", advertiu.
Leia Também: Hamas acusa forças da Autoridade Palestiniana de participar na operação em Jenin