Pandemia levou a aumentos históricos da venda de canábis nos EUA

 As vendas de canábis registaram aumentos históricos nos Estados Unidos desde o início das restrições ligadas à covid-19, o que elevou o produto para um "estatuto convencional", disse à Lusa Paul Armentano, diretor da organização NORML.

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Lusa
20/04/2020 19:50 ‧ 20/04/2020 por Lusa

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Covid-19

 

"Na verdade, a pandemia elevou a um estatuto convencional a canábis, especialmente a canábis medicinal", afirmou o responsável, que dirige a Organização Nacional para a Reforma das Leis da Marijuana (NORML).

Armentano apontou para o facto de os dispensários de canábis terem sido considerados nos Estados Unidos negócios essenciais enquanto vigoram as ordens de permanência em casa como demonstrativo de que a erva "não é uma opção terapêutica alternativa e marginal" mas sim "um medicamento essencial".

No entanto, o diretor executivo da NORML, Erik Altieri, sugeriu formatos alternativos ao fumo, como comestíveis, devido aos efeitos nefastos que pode ter para os pulmões.

"Porque a covid-19 é uma doença respiratória, poderão querer limitar ou evitar a exposição ao fumo combustivo, já que isto pode colocar os pulmões sob stress e pressão indevidas", escreveu numa mensagem aos consumidores.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) já tinha alertado que os fumadores, em geral, poderão ser mais vulneráveis à covid-19.

A data de hoje, 20 de abril (4/20 no formato norte-americano), é considerada "dia da marijuana" e celebrada por todo o mundo. Este ano, a NORML pediu aos consumidores que "não se juntem em grupos nem fora nem dentro de portas", encorajando-os a participarem em celebrações virtuais.

Com o início das restrições ligadas à pandemia da covid-19, houve uma subida exponencial da procura que gerou filas longas à porta dos dispensários, desde a Califórnia ao Colorado, e no Nevada, onde o governo estadual ordenou que os dispensários mudassem para um regime online, o maior distribuidor de canábis, a Blackbird Go, registou um aumento de 400% nas encomendas em março.

Mais de um mês depois, a procura mantém-se. É o que explica à Lusa Kimberly Cargile, responsável do dispensário A Therapeutic Alternative em Sacramento, Califórnia.

"Na primeira semana tivemos uma corrida à loja e filas longas. Conseguimos os melhores dias de vendas de sempre", afirmou a responsável, que está na indústria da canábis há vinte anos.

"Esperávamos que a procura caísse a seguir e reduzimos as horas de funcionamento, mas não diminuiu", adiantou.

 O mesmo fenómeno foi sentido no dispensário Project Cannabis NoHo, em North Hollywood, onde as vendas online e as entregas à porta estão em franco crescimento e as chegadas de clientes continua, com um limite de três dentro da loja de cada vez.

No dispensário Universal Collective, em Studio City, LA, o que está a crescer são também as vendas online e entregas à porta, visto que o tráfego físico de clientes foi afetado pelo encerramento dos estúdios da Universal, ali ao lado.

 "Temos clientes, e até eu própria, que agora estão a usar canábis diariamente para reduzirem a sua ansiedade e o seu stress e tentarem ficar calmos durante tudo isto", explicou Kimberly Cargile.

Segundo a gestora da Universal Collective, as vendas do produto em formatos comestíveis subiram bastante e estão em alta "produtos que permanecem no organismo e com elevado nível de CBD", isto é, canabidiol, componente da planta a que são atribuídas várias propriedades terapêuticas e não tem os efeitos psicotrópicos do tetraidrocanabinol (THC).

A procura por comestíveis e formatos que não se fumam, como pomadas e gotas, explica-se porque "as pessoas não estão a socializar, o aspeto recreativo está muito diminuto", afirmou Cargile, referindo que "as pessoas estão a usar canábis neste momento para aliviarem o stress".

 O diretor da Organização Nacional para a Reforma das Leis da Marijuana disse que, por enquanto, ainda não tomou conhecimento de interrupções na cadeia de fornecimento, "embora se pudesse esperar que houvesse problemas dado o aumento da procura e o impacto da covid-19 na força laboral".

No dispensário A Therapeutic Alternative, alguns funcionários deixaram de trabalhar por receio de infeção e a empresa está a pagar um prémio de risco de 20% aos 30 empregados que estão a trabalhar. As medidas de prevenção incluem um limite de clientes dentro da loja e uso de máscara e luvas por todos.

 Cargile está também a permitir encomendas por mensagem ou telefone e entregas ao lado do dispensário, em especial para os clientes mais idosos que usam canábis medicinal e não estão habituados a comprar online.

 Uma nova pesquisa da New Frontier Data, que se especializa nesta indústria, mostra que 80% dos empresários da canábis inquiridos preveem manter ou aumentar os seus investimentos nos próximos tempos e 58% acreditam que o setor sofrerá menor impacto que outros na crise económica.

A pandemia de covid-19 já infetou mais de 760 mil pessoas e provocou mais de 40 mil mortos nos Estados Unidos.

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