"Portugal tem sido um país exemplar no enfrentamento do coronavírus. Acho que está provado que o isolamento, depois de um convencimento da sociedade, é a melhor forma de enfrentar este inimigo invisível [contra quem] ainda não há armas, a não ser nos escondermos", disse Lula da Silva durante uma entrevista à RTP.
O antigo Presidente critica o atual chefe de Estado, Jair Bolsonaro, que tem criticado o confinamento social, aconselhado por especialistas em saúde pública.
"Ele próprio [Bolsonaro] vai para a rua numa total irresponsabilidade", acusou Lula da Silva, que diz que a aposta na reabertura da economia depende, em primeiro lugar, da situação clínica do país.
"A melhor forma de as pessoas trabalharem é as pessoas estarem vivas. Vamos cuidar em primeiro lugar de que as pessoas estejam vivas", afirmou, criticando a falta de respostas económicas à crise social do país.
As reservas cambiais do país poderia permitir "produzir dinheiro novo para que a gente pudesse enfrentar de frente esta crise", explicou Lula da Silva, que defende também uma revisão dos sistema de poder mundial, demasiado dependente do neoliberalismo.
"Está provado que o mercado não tem solução para crise como essa", porque "o mercado não resolve os problemas da sociedade", acusou.
Nesse sentido, "vamos ter de rediscutir a governança mundial", reforçando o papel da ONU e das organizações bilaterais.
No Brasil foram registados oficialmente 49.492 casos da doença, que já matou 3.313 pessoas. O país regista uma taxa de mortalidade de 6,7%, segundo informações divulgadas pelo Ministério da Saúde.
Portugal contabiliza 854 mortos associados à covid-19 em 22.797 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.
Relativamente ao dia anterior, há mais 34 mortos (+4,1%) e mais 444 casos de infeção (+2%).
Das pessoas infetadas, 1.068 estão hospitalizadas, das quais 188 em unidades de cuidados intensivos, e o número de casos recuperados passou de 1.201 para 1.228.
Portugal cumpre o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado em 19 de março, e o Governo anunciou hoje a proibição de deslocações entre concelhos no fim de semana prolongado de 01 a 03 de maio.
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou cerca de 200 mil mortos e infetou mais de 2,7 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Mais de 720 mil doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.
Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, alguns países começaram entretanto a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos, como Dinamarca, Áustria, Espanha ou Alemanha, a aliviar algumas das medidas.