Dilma diz que Moro deveria desculpar-se por "mentiras sobre Lula"

A ex-presidente brasileira Dilma Rousseff afirmou sexta-feira que o ministro demissionário da Justiça deveria ter aproveitado o momento da sua demissão para desculpar-se pelas "mentiras" sobre o antigo chefe de Estado Lula da Silva.

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Lusa
25/04/2020 06:16 ‧ 25/04/2020 por Lusa

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"Se o senhor [Sergio] Moro tivesse 10% da sinceridade que tentou transmitir na entrevista-delação [denúncia] contra Bolsonaro, seu ex-chefe, teria aproveitado e pedido desculpas ao povo brasileiro por todas as mentiras que contou sobre Lula", escreveu Dilma na rede social Twitter.

O ministro da Justiça e da Segurança Pública do Brasil, Sergio Moro, anunciou na manhã de sexta-feira, durante uma conferência de imprensa, em Brasília, capital do Brasil, que pediu a demissão do cargo que ocupa desde janeiro do ano passado.

Moro acusou o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, de estar a fazer uma "interferência política na Polícia Federal", na sequência da demissão do ex-chefe da Polícia Federal do país Maurício Leite Valeixo, publicada em Diário Oficial da União.

Moro afirmou que Bolsonaro exonerou a liderança da Polícia Federal porque pretende ter acesso às investigações judiciais, algumas das quais envolvem os seus filhos ou aliados.

"O Presidente disse-me, mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contacto pessoal dele [para quem] ele pudesse ligar, [de quem] ele pudesse colher informações, [com quem] ele pudesse colher relatórios de inteligência. Seja o diretor [da Polícia Federal], seja um superintendente", declarou Sergio Moro.

O ex-juiz declarou que o Presidente brasileiro lhe disse pessoalmente que queria mudar o chefe geral da Polícia Federal porque estava preocupado com investigações em curso no STF, que podem envolver os seus filhos ou aliados políticos, e queria ter acesso a relatórios sigilosos sobre investigações.

Sergio Moro aproveitou para elogiar a postura de Dilma Roussef e Lula da Silva enquanto eram chefes de Estado face à Polícia Federal, afirmando que "foi garantida a autonomia" da instituição, apesar das investigações em curso na ocasião.

"Realmente não é o papel da Polícia Federal prestar este tipo de informação. A investigação tem de ser preservada. Imagine se durante a própria Lava Jato a ex-Presidente Dilma [Rousseff] ou o ex-Presidente Luiz [Inácio Lula da Silva] ligassem para o superintendente [da Polícia Federal] em Curitiba para colher informações sobre as investigações em andamento", disse o ministro, que coordenou a operação judicial Lava Jato que visou vários políticos, entre os quais aqueles antigos chefes de Estado, como Lula da Silva, que acabou preso.

Já a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), formação política de Lula e Dilma, afirmou que as declarações de Moro na sexta-feira foram, também, "uma confissão de crimes".

"A entrevista de Sergio Moro é uma confissão de crimes e uma delação contra Bolsonaro: corrupção, pagamento secreto de ministro, obstrução de justiça, prevaricação. Moro tinha de sair da entrevista direto para depor na Polícia Federal. (...) Hoje assistimos a uma briga de lama entre dois sujos", escreveu Gleisi Hoffmann no Twitter.

"Moro sai ainda menor do que entrou. O falso herói contra a corrupção protegeu os corruptos da família Bolsonaro e jamais defendeu a democracia ameaçada pelo chefe. Sai humilhado depois de fazer o serviço sujo", acrescentou a presidente do PT.

Sergio Moro tornou-se famoso no Brasil e internacionalmente, a partir de 2014, quando passou a comandar um grupo de trabalho que desvendou esquemas de corrupção milionários na empresa estatal petrolífera Petrobras e noutros órgão públicos do Governo brasileiro, tornando-se uma espécie de herói nacional e expoente máximo da operação Lava Jato.

Em 2017, Moro sentenciou Lula da Silva a mais de nove anos de prisão no âmbito de um polémico caso sobre a propriedade de um apartamento de luxo na cidade do Guarujá, no litoral do estado de São Paulo, que teria sido dado ao antigo Presidente como suborno pela construtora OAS.

Moro foi um dos principais membros do Governo brasileiro e mantinha uma popularidade maior do que a do próprio chefe de Estado, com quem entrou em conflito algumas vezes, incluindo numa tentativa anterior de exoneração de Valeixo, em agosto do ano passado.

 

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