O primeiro alerta partiu, no início da semana, da Associação de Pediatras de Cuidados Intensivos do Reino Unido, mas foi, entretanto, secundada pela Associação Espanhola de Pediatria e pela Sociedade Italiana de Pediatras.
Segundo as autoridades do Reino Unido, "nas últimas três semanas houve um aumento aparente, em Londres e também em outras regiões do Reino Unido, do número de crianças de todas as idades com um estado inflamatório multissistémico que requer cuidados intensivos".
Segundo a Sociedade Britânica de Cuidados Intensivos Pediátricos, há "uma preocupação crescente" de que uma síndrome relacionada com a covid-19 esteja a surgir em crianças, consideradas, até agora, menos vulneráveis ao risco de desenvolver complicações ligadas ao novo coronavírus.
"Já sabemos que um número muito pequeno de crianças pode ficar gravemente doente com covid-19, mas é muito raro", disse o presidente da faculdade de Pediatria e Saúde Infantil britânica, Russell Viner.
No entanto, "podem aparecer novas doenças com formas que nos surpreendem e os médicos devem estar alerta para sintomas específicos", avisou.
Os hospitais ingleses relataram alguns casos que apresentavam características da Síndrome do Choque Tóxico ou da Doença de Kawasaki, um distúrbio raro dos vasos sanguíneos.
Destes casos, apenas algumas crianças tiveram resultado positivo para covid-19, portanto, os cientistas não têm certeza se esses sintomas raros são causados pelo novo coronavírus ou por outra coisa.
O professor honorário da Escola Médica de Warwick James Gil considerou hoje que, embora os relatos sejam preocupantes, ainda não há provas sólidas de que a rara síndrome tenha sido causada pela covid-19.
"Independentemente da fonte, as doenças inflamatórias multissistémicas são excecionalmente graves para as crianças e já levaram a um aumento das equipas de cuidados intensivos", afirmou, acrescentando que "manter-se atento a novos sintomas que surjam nos doentes é sempre uma coisa boa".
Entretanto, a Associação Espanhola de Pediatria emitiu um aviso semelhante, alertando os pediatras de que, nas últimas semanas, houve várias crianças em idade escolar que apresentaram "um quadro invulgar de dores abdominais, acompanhadas de problemas gastrointestinais" que podem levar, em poucas horas, a um choque, com queda da pressão arterial e problemas cardíacos.
"É uma prioridade reconhecer estes sintomas para encaminhar urgentemente esses doentes para um hospital", disse a associação pediátrica.
O alerta da associação foi, no entanto, desvalorizado pelo Ministério da Saúde espanhol, para quem "não há informação suficiente" para fazer uma ligação entre a infeção por coronavírus em crianças e um quadro clínico conhecido como choque pediátrico, que pode ser desencadeado por vários agentes infecciosos".
A posição do Governo foi tomada hoje, em conferência de imprensa, pelo diretor do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências em Saúde do Ministério da Saúde, Fernando Simón, que referiu que a síndrome que está a ser observada ocorre em algumas crianças previamente infetadas com coronavírus, mas também noutras sem a doença.
Também os pediatras italianos foram avisados da mesma preocupação pela Sociedade Italiana de Pediatria.
Uma carta do médico Angelo Ravelli, do Hospital Gaslini e membro da sociedade de pediatria, foi enviada a 10.000 colegas para informar que a sua equipa deu conta de um aumento invulgar do número de pacientes com Síndrome de Kawasaki, observando que algumas crianças tinham covid-19 ou tinham tido contacto com casos confirmados do coronavírus.
Os sintomas da Kawasaki incluem febre alta que dura cinco dias ou mais, erupções cutâneas e glândulas inchadas no pescoço.
Até agora, as crianças estão entre o grupo menos afetado pelo coronavírus. Dados de mais de 75.000 casos na China mostraram que os mais novos representavam 2,4% de todos os casos e apresentavam apenas sintomas leves.
A Organização Mundial da Saúde admitiu estar a tentar reunir mais informações sobre qualquer síndrome em crianças relacionada com o coronavírus através da sua rede global de médicos, mas adiantou não ter recebido ainda nenhum relatório oficial sobre a situação.
Segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 211 mil mortos e infetou mais de três milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Mais de 832 mil doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Os Estados Unidos são o país com mais mortos (56.253) e mais casos de infeção confirmados (cerca de um milhão).
Seguem-se Itália (26.977 mortos, quase 200 mil casos), Espanha (23.822 mortos, perto de 211 mil casos), França (23.293 mortos, cerca de 166 mil casos) e Reino Unido (21.092 mortos, mais de 157 mil casos).