Bolsonaro diz que isolamento social contra a pandemia foi "inútil"

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou na noite de quinta-feira que os esforços para travar a disseminação do novo coronavírus no país, como o isolamento social, foram "inúteis" e geraram desemprego.

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Lusa
01/05/2020 07:00 ‧ 01/05/2020 por Lusa

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Covid-19

 

"Eu já disse que 70% da população vai ser infetada. Pelo que parece, pelo que estamos a ver agora, todo o empenho para achatar a curva praticamente foi inútil. Agora, o efeito colateral disso: desemprego. O povo quer voltar a trabalhar", afirmou Bolsonaro, durante uma transmissão de vídeo em direto no Facebook.

O isolamento social é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e pelo próprio Ministério da Saúde do Brasil, para enfrentar a pandemia da covid-19.

"Todo o mundo sabe que quanto mais jovem menos problemas tem (...) em caso de infeção pelo vírus. Pessoas abaixo de 40 anos de idade, dos infetados com alguma outra comorbidade, apenas em torno de 0,2% é que o fim é trágico", declarou o chefe de Estado.

Contudo, segundo dados divulgados pela Tutela da Saúde brasileira no início da semana, 31% dos mortos no país em decorrência do novo coronavírus tinha menos de 60 anos.

"O Governo brasileiro, desde antes do carnaval, já alertava sobre a questão do coronavírus no Brasil e vinha tomando providências neste sentido. Este problema interessa a todos nós. Sabemos o que pode acontecer ainda no Brasil fruto da questão do vírus e sabemos que, infelizmente, muitas pessoas vão morrer. A gente lamenta. Infelizmente, é uma realidade", acrescentou o mandatário.

O ministro da Saúde brasileiro, Nelson Teich, criticou na quinta-feira a polarização política criada em torno do isolamento social como medida contra a covid-19, reforçando que o distanciamento permanece como orientação da tutela.

"Vejo isso [isolamento social] muito mais como uma discussão política do que como uma discussão social. Se não pararmos para ver o que está a acontecer, para entender o que isso representa para a sociedade e ficarmos polarizando, isso não vai levar a nada", afirmou Teich, numa conferência de imprensa em Brasília.

A declaração do ministro foi prestada após ser questionado se, face aos quase seis mil mortos no país devido ao novo coronavírus, a tutela reforçaria a necessidade de manutenção do distanciamento social ou passaria a apelar a uma redução dessas medidas, conforme o que é defendido pelo chefe de Estado, Jair Bolsonaro.

"O distanciamento permanece como a orientação. Vamos estar a avaliar cada lugar, cada região, cada cidade para ver como está a evoluir a curva de contaminação, qual é o recurso que cada cidade tem para tratar das pessoas, isso é o que vai definir [o prolongamento do distanciamento social]", disse o governante.

A Justiça do estado do Maranhão decretou na quinta-feira 'lockdown' (bloqueio total) em quatro municípios da Região Metropolitana de São Luís, pelo prazo de dez dias, a entrar em vigor a partir de 05 de maio. Este foi o primeiro 'lockdown' decretado no Brasil, desde a chegada da pandemia ao país, no final de fevereiro.

A decisão foi tomada após as cidades estarem com a capacidade hospitalar praticamente esgotada.

O Brasil registou mais 435 mortes de pessoas infetadas pelo novo coronavírus e o recorde de 7.218 novos infetados nas últimas 24 horas, informou na quinta-feira o Ministério da Saúde do país.

Desde o início da pandemia, o país sul-americano já contabilizou 5.901 óbitos e 85.380 casos confirmados de infeção pela covid-19. Contudo, está ainda a ser averiguada a eventual relação de 1.539 óbitos com o novo coronavírus.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 230 mil mortos e infetou mais de 3,2 milhões de pessoas em 195 países e territórios.

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