Campanha de caju pressionou início do desconfinamento na Guiné-Bissau

O analista guineense Rui Jorge Semedo disse hoje à Lusa que a campanha de caju, principal produto de exportação da Guiné-Bissau, pressionou o desconfinamento no país, onde já foram registadas quase 1.400 infeções pelo novo coronavírus.

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Lusa
07/06/2020 08:26 ‧ 07/06/2020 por Lusa

Mundo

Covid-19

"Acho que a situação da campanha de caju pressionou e obrigou o Governo a tomar esta medida que não é de todo pertinente neste preciso momento quando se está a observar a subida de casos", afirmou o analista.

A economia guineense depende da comercialização da castanha de caju, bem como cerca de 80% da população do país.

A Guiné-Bissau detetou os primeiros casos de covid-19 em março e, segundo os dados divulgados pelo Centro de Operações de Emergência de Saúde (COES), na sexta-feira, o país já registou 1.368 casos positivos, incluindo 153 recuperados e 12 vítimas mortais.

"No fundo, nunca houve um confinamento rigoroso no país e o Governo apercebeu-se disso e para não perder os benefícios da campanha de caju decidiu iniciar o desconfinamento para permitir que as pessoas possam entrar nos pomares de caju, deslocarem-se em zonas específicas para fazer a compra. Esta medida visa na verdade facilitar a campanha de caju", salientou Rui Jorge Semedo.

O investigador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa sublinhou que a campanha de comercialização da castanha de caju é um "elemento muito forte" não só da economia nacional, mas também da vida das pessoas.

"A maior parte da população tem apostado neste produto para financiar as suas atividades agrícolas, como a produção de arroz, escola dos filhos, saúde e até a construção da casa. É um elemento económico muito importante, mas também tem influências sociais na vida dos guineenses", explicou.

Mas o preço que está a ser praticado pode não ajudar os agricultores, até porque os tradicionais compradores não estão no país devido ao encerramento das fronteiras.

Os agricultores guineenses estão a vender o quilograma de caju a cerca de 0,30 cêntimos de euro, apesar do preço fixado pelo Governo ter sido de 0,57 cêntimos de euro.

Para Rui Jorge Semedo, com o desconfinamento para arrancar com a campanha de caju, o país está a correr um risco, mas, salientou, apesar de nunca ter havido uma estratégia muito bem definida de combate à covid-19, a Guiné-Bissau está a beneficiar daquilo que está a acontecer em outros países africanos.

"O impacto da covid-19 não conseguiu ser forte como aconteceu em outros continentes. Esperava-se uma situação mais complicada e complexa em África, mas isso não aconteceu", disse.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 397 mil mortos e infetou mais de 6,8 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo o balanço feito pela agência francesa AFP.

Em África, há mais de 4.900 mortos confirmados em perto de 180 mil infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia no continente.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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