Após ter sido levantado o segredo de justiça sobre o caso, o procurador Omar Mejillones disse hoje, citado pela agência Efe, que de acordo com a investigação há uma sobrevalorização do preço e que o "processo de contratação está totalmente viciado".
O procurador acrescentou, enquanto falava aos órgãos de comunicação social, que o dono da empresa espanhola GPA Innova assinalou que o preço de um "ventilador normal" era de 6.600 euros, mas na fatura apresentada pelo ex-ministro da Saúde da Bolívia Marcelo Navajas o valor ascendia a cerca de 25 mil euros.
"O que eles fizeram foi desmontar os 'kits' e colocar um preço em cada objeto, para chegar àquele valor [25 mil euros], que é o valor que foi faturado. Mas o 'kit', de acordo com o contrato, é apenas um e o valor total de um ventilador pulmonar é de 6.600 euros", explicou.
Omar Mejillones defendeu ainda que o ex-ministro agora "deve ter obtido algum benefício porque conhecia perfeitamente o procedimento e omitiu-o".
O procurador disse ainda que uma das irregularidades detetadas foi a entrega de cerca de 222 mil euros como garantia para a compra, feita no dia em que o processo para a contratação começou.
"Isto demonstra, como já tinha sido divulgado, a forma como esta compra estava programada", realçou.
O processo de investigação está já 90% concluído, mas ainda é necessário recolher depoimento de um especialista do Banco Interamericano de Desenvolvimento, que financiou a compra de 170 respiradores por cerca de 4,4 milhões de euros, acrescentou.
Neste processo são considerados suspeitos, entre outros, o ex-ministro da Saúde Marcelo Navajas e o cônsul boliviano em Barcelona, Espanha, Alberto Pareja, que se encontram em prisão domiciliária.
Já o ex-diretor de Assuntos Jurídicos do Ministério da Saúde da Bolívia Fernando V., o ex-diretor da Infraestrutura em Saúde e Equipamentos Geovanni P. e uma figura conhecida neste processo como testemunha-chave, Luis Fernando H., estão em prisão preventiva.
A Bolívia já pagou quase dois milhões de euros e o Governo interino daquele país garantiu que não irá pagar mais à empresa intermediária contratada a Espanha, a IME Consulting.
Além do processo judicial, a Assembleia Legislativa da Bolívia criou uma comissão para investigar a compra a Espanha de ventiladores, que é o maior escândalo por suposta corrupção na Bolívia desde que o Governo interino assumiu funções em novembro.