Antes do seu regresso à operação "Sea Guardian" no Mediterrâneo, Paris pretende que os aliados "reafirmem solenemente a sua disponibilidade e seu compromisso com o embargo", numa referência à imposição da proibição sobre o envio de armamento em direção à Líbia, envolvida numa prolongada e sangrenta guerra civil com ingerência externa.
O Governo francês exige ainda um mecanismo de resolução de conflitos mais preciso no interior da NATO, e uma melhor cooperação entre a organização militar aliada e a missão europeia Irini, que também vigia o respeito do embargo imposto pela ONU.
A pedido de Paris, apoiado por oito países europeus num total de 30 Estados-membros, a NATO disse que está a investigar um recente incidente naval entre vasos de guerra turcos e franceses, mas o relatório ainda não foi divulgado.
Em paralelo, o embaixador da Turquia em França, Ismail Hakki Musa, compareceu hoje perante a comissão de Negócios Estrangeiros e de Defesa do Senado francês, onde defendeu as posições de Ancara.
"A NATO sem a Turquia? Isso significaria o fim da Aliança", afirmou ao ser interpelado sobre o "imperialismo turco" e o facto de a presença turca na aliança ocidental estar "em perigo", e quando este país constitui o segundo maior exército da organização militar após os Estados Unidos.
"Imaginem a NATO sem a Turquia! Não teriam mais NATO! Não haverá mais NATO sem a Turquia! Não saberão tratar do Irão, do Iraque, da Síria, do Mediterrâneo sul, do Cáucaso, da Líbia, do Egito", argumentou o embaixador.
"A Turquia não é um país qualquer na NATO", prosseguiu Ismail Hakki Musa ao recordar o seu peso demográfico e militar. "Guardámos o flanco sul e leste durante a Guerra fria com muitos esforços, e tantas vezes em detrimento da prosperidade da nossa nação", acrescentou.
A França tem criticado fortemente a intervenção militar turca na Líbia em apoio do Governo de Acordo Nacional (GAN) sediado em Tripoli, que devido a esta intervenção conseguiu fazer recuar as forças do marechal dissidente Khalifa Haftar, o homem forte do leste do país.
Na segunda-feira, Emmanuel Macron acusou a Turquia de "responsabilidade histórica e criminal" no conflito líbio, e enquanto país que "pretende ser membro da NATO".
No dia seguinte, Ancara respondeu pela voz do seu chefe da diplomacia, Mevlüt Cavusoglu, que denunciou a abordagem "destrutiva" da França da Líbia, acusando-a de procurar reforçar a presença da Rússia neste país em guerra desde 2011.
Haftar é apoiado pelo Egito, Emirados Árabes Unidos e de forma mais prudente pela Rússia, que mantém a amarga recordação de ter permitido a intervenção militar ocidental em 2011. De acordo com numerosos analistas, e apesar das contínuas negações oficiais, a França também tem apoiado o marechal dissidente.
Após a queda do regime de Muammar Kadhafi em 2011, na sequência de uma revolta interna e uma decisiva intervenção aérea de forças da NATO (onde a França se destacou juntamente com Reino Unido e Estados Unidos), a Líbia resvalou para uma situação de caos, com contínuos conflitos e lutas pelo poder.
Em abril de 2019, as forças de Haftar desencadearam uma ofensiva em direção a Tripoli, mas o seu avanço que parecia imparável foi travado há poucas semanas, na sequência do apoio turco ao GAN.
Apoiados pelos drones de Ancara, as forças pró-GAN ameaçam agoira Sirte, uma localidade estratégica em direção ao leste do país do norte de África e uma "linha vermelha" para o Egito, que ameaçou intervir militarmente.
A guerra civil na Líbia, que se agravou na sequência de uma crescente ingerência externa, em particular do Egito, Emirados Árabes Unidos, França e Rússia em apoio a Haftar e, mais recentemente, da Turquia e Qatar em apoio ao campo oposto -- a Itália, antiga potência colonial, também tem privilegiado os contactos com Tripoli --, provocou muitos milhares de mortos e mais de 200.000 deslocados.