Esta semana uma missão da Organização Mundial de Saúde (OMS) vai à China para investigar a origem do SARS-CoV-2, o vírus que causa a doença Covid-19. Um passo importante para perceber a origem da pandemia, que já infetou mais de 11,5 milhões de pessoas. No entanto, a proximidade da chegada da equipa da OMS está a levar as autoridades chinesas a afirmarem que a investigação da OMS não deve ficar a confinada ao seu território, e já sugeriram mesmo que a entidade também deve visitar Espanha.
“Não importa em que país começa o trabalho de identificação científico, desde que envolva todos os países relacionados com isto e seja conduzido de forma justa”, sublinhou Zeng Guang, o chefe epidemiologista do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da China, em declarações ao Global Times, um meio de informação estatal.
Wang Guangfa, um dos principais conselheiros de saúde do governo de Pequim, foi ainda mais longe. “A China é apenas um elo na cadeia de transmissão do vírus, e a OMS tem de ir a mais países como Espanha, que reportou o coronavírus numa amostra de águas residuais em março de 2019”, frisou.
Contudo, a investigação que alertou para a presença da Covid-19 nas águas residuais de Barcelona tem sido encarada com ceticismo por especialistas independentes, que consideram que a investigação contém falhas e contradiz provas fortes de que o vírus teve origem no final de 2019 na China.
“A explicação mais plausível é uma mistura/contaminação da amostra”, realçou o François Balloux, diretor do UCL Genetics Institute, em Londres, ao The Telegraph.
Novas dúvidas em torno de vírus no laboratório de Wuhan
Ao mesmo tempo que Pequim aponta o dedo a Espanha e a discussão em torno da origem do vírus se vai tornando mais politizada, voltam a ser levantadas questões em torno de uma amostra do coronavírus no Instituto de Virologia de Wuhan.
Em causa está uma investigação publicada pelo The Sunday Times, que dá conta de que a estirpe que mais se aproxima do SARS-CoV-2, com uma correspondência de 96,2%, foi encontrada em 2013 por uma equipa de cientistas chineses numa mina de cobre em Tongguan e desde então está no laboratório de Wuhan. Uma informação importante e que as autoridades chinesas não partilharam publicamente.
Os cientistas chineses, liderados por Shi Zhengli, deslocaram-se à mina depois de seis homens terem adoecido com sintomas semelhantes a uma pneumonia, três dos quais acabaram por morrer. À data, os cientistas recolheram amostras de fezes de morcegos e uma dessas amostras, descrita como uma “nova estirpe” do Sars, foi definida como RaBtCoV/4991.
Peter Daszak, presidente da Eco Health Alliance, que colaborou com a equipa de Shi Zhengli na investigação de vírus durante 15 anos, referiu ao The Sunday Times que a amostra RaBtCoV/4991 foi rebaptizada com o nome de RaTG13, a tal que tem uma correspondência de 96,2% relativamente ao SARS-CoV-2.
A alteração do nome está a alimentar as teorias da conspiração. Mas Daszak salienta que o “mundo mudou” desde 2013, assim como o sistema de códigos de nomes para vírus.
Além disso, embora a correspondência genética entre o vírus RaTG13 e o SARS-CoV-2 seja muito grande, o consenso científico é de que é improvável que se trate do mesmo vírus. Alguns até estimam que poderia levar entre 20 a 50 anos para perfazer a diferença genética de cerca de 4%.