Indígenas e organizações não-governamentais tem denunciado o avanço da doença nesta área remota, temendo que o novo coronavírus se espalhe rapidamente entre povos isolados com menor resistência imunológica e acesso limitado a serviços de saúde na floresta amazónica.
Um indígena da etnia Marubo conhecido como Yovempa, de 83 anos, morreu de covid-19 no vale do Javari em 05 de julho, informou a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) do Brasil.
Duas outras mortes de indígenas nesta mesma área foram relatadas na região pela Coordenação dos Povos Indígenas Independentes.
O Governo brasileiro confirmou o registo de 220 infeções causadas pelo novo coronavírus no vale do Javari, que abriga numerosos grupos indígenas, 10 deles formados por pessoas isoladas que, frequentemente, recusam o contacto com não indígenas.
Os primeiros casos de covid-19 na região ocorreram em junho. Líderes indígenas de várias etnias localizadas próximas do rio Intuí pediram ao Governo Federal brasileiro que adotasse medidas urgentes para impedir a propagação da doença.
A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari acusou o executivo, liderado por Jair Bolsonaro, de ter fracassado ao estabelecer postos de controlo para limitar o acesso às terras.
Líderes do povo Matses, que vivem na região fronteiriça com o Peru, enviaram uma carta às autoridades em 29 de junho na qual alertaram que as suas necessidades de proteção não foram atendidas.
Na última terça-feira, a Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão responsável pela proteção dos indígenas brasileiros, divulgou uma declaração negando as acusações de que falhou na resposta à pandemia de covid-19.
A Funai disse que tem feito o seu trabalho e frisou que os críticos apoiam as "velhas políticas socialistas indígenas de bem-estar e patrocínio, que causaram tanta desgraça para os grupos indígenas brasileiros".
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de infetados e de mortos (mais de dois milhões de casos e 76.688 óbitos), depois dos Estados Unidos.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 590 mil mortos e infetou mais de 13,83 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.