Das oito mulheres que entraram em trabalho de parto no Hospital Central Harare, no Zimbabué, na segunda-feira à noite, apenas uma pôde ir para casa com o seu filho. Todas as outras sete mulheres deram à luz nados-mortos, depois de atrasos no tratamento por causa de falta de funcionários, confirmaram dois médicos à BBC.
Os profissionais de enfermagem estão em greve geral por causa de falta de material de proteção pessoal contra a Covid-19 e contra os baixos salários, numa altura em que o país vive a pior crise económica em mais de uma década.
Um dos médicos que falou com a estação britânica, sob a condição de permanecer anónimo, disse que estas mortes são "a ponta do icebergue", num setor que foi fortemente abalado pela pandemia e por escândalos de corrupção.
O médico Peter Magombeyi deu conta das mortes dos bebés nas redes sociais, mostrando fotografias dos nados-mortos e do registo clínico que o comprova. "Era tudo evitável mas, os nossos líderes escolheram pilhar”, lê-se na legenda, numa referência corrupção no setor da Saúde.
Out of 8 pregnant women, only one went home smiling. (Today, Harare Hospital) That 0/10 in red means NO LIFE (1st frame) and those green clothes are covering dead bodies of new born babies. All this is AVOIDABLE but our leaders have chosen to LOOT. Please! pic.twitter.com/PuCVVGFm3h
— Dr Peter Magombeyi (@DMagombeyi) July 28, 2020
Em entrevista à BBC, um profissional de Saúde explicou que as mortes se deveram a intervenções tardias, em alas de maternidade sobrelotadas. "Duas das mães tiveram rupturas dos úteros e precisavam de operação imediata. As outras intervenções cirúrgicas foram feitas por dificuldades no trabalho de parto, mas não foram realizadas a tempo e os bebés morreram, presos nas pélvis das suas mães", disse.
Em junho, recorde-se, o ministro da Saúde do Zimbábue, Obadiah Moyo, foi detido na sequência de um caso de corrupção relacionado com o fornecimento de equipamentos para combater a propagação da Covid-19.