"As recentes detenções de Jimmy Lai, membros da sua família e outros indivíduos, e as buscas aos escritórios do jornal Apple Daily, sob alegações de conluio com forças estrangeiras, alimentaram ainda mais os receios de que a Lei de Segurança Nacional esteja a ser usada para sufocar a liberdade de expressão e dos meios de comunicação social em Hong Kong", declarou hoje o porta-voz do chefe da diplomacia da UE.
Na declaração divulgada hoje à tarde em Bruxelas, o porta-voz do Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, reitera que "o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais é um elemento central da Lei Básica e do princípio 'um país, dois sistemas'", previsto para os territórios de Hong Kong e Macau desde a sua passagem para administração chinesa, em 1997 e 1999, respetivamente.
"Além disso, a liberdade e o pluralismo dos meios de comunicação social são pilares da democracia, pois são componentes essenciais de uma sociedade aberta e livre", prossegue o porta-voz, concluindo que "é essencial que os direitos e liberdades existentes dos residentes de Hong Kong sejam plenamente protegidos, incluindo a liberdade de expressão, de imprensa e de publicação, bem como a liberdade de associação e de reunião".
A polícia de Hong Kong efetuou hoje buscas ao grupo de comunicação social Next Media, considerado pró-democracia, pouco depois da detenção do proprietário, o empresário Jimmy Lai, ao abrigo da nova lei de segurança nacional.
Dezenas de agentes das forças de segurança entraram na sede do grupo ao final da manhã em Hong Kong, situada numa zona industrial, com os jornalistas do jornal Apple Daily a difundir em direto as imagens das buscas policiais, na rede social Facebook.
Nas imagens, vê-se o chefe de redação do diário, Law Wai-kwong, a pedir à Polícia que não toque em nada antes de os advogados do grupo verificaram o mandado judicial, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
Os agentes ordenaram aos jornalistas que se levantassem e alinhassem para proceder à verificação da identidade, enquanto outros faziam buscas na redação.
As buscas aconteceram pouco depois de o magnata da imprensa Jimmy Lai, proprietário do grupo, ter sido detido, por suspeita de conluio com forças estrangeiras.
"Foi detido em casa, cerca das 07:00 (00:00 em Lisboa). Os nossos advogados estão a caminho da esquadra", disse à AFP Mark Simon, um dos colaboradores de Lai.
Simon acrescentou que outros membros do grupo de comunicação social dirigido por Jimmy Lai também tinham sido detidos.
Um responsável da polícia disse à AFP, a coberto do anonimato, que Lai foi detido por conluio com forças estrangeiras, um dos crimes previstos na nova lei de segurança nacional, e por fraude.
Em comunicado, a polícia informou mais tarde que deteve sete pessoas por suspeita de conluio com forças estrangeiras e fraude.
A polícia também fez buscas na casa de Lai e na do filho, informou Mark Simon através do Twitter.
Jimmy Lai, de 72 anos, é o proprietário de duas publicações pró-democracia frequentemente críticas de Pequim, o diário Apple Daily e o Next Magazine.
Visto por numerosos habitantes de Hong Kong como um herói e único magnata do território crítico de Pequim, Jimmy Lai é descrito nos meios de comunicação oficiais chineses como "um traidor", que inspirou as manifestações pró-democracia realizadas na região chinesa, e o líder de um grupo de personalidades acusadas de conspirar com nações estrangeiras para prejudicar a China.
Em meados de junho, duas semanas antes de ser aprovada a nova lei de segurança nacional, Jimmy Lai disse à AFP esperar a detenção.
"Estou pronto para ir para a prisão. Se isso acontecer, terei oportunidade de ler livros que ainda não li. A única coisa que posso fazer é ser positivo", afirmou.
O empresário disse então que a nova lei iria "substituir" o regime legal de Hong Kong e "destruir o estatuto financeiro internacional" da cidade.
A lei da segurança nacional criminaliza atos secessionistas, subversivos e terroristas, bem como o conluio com forças estrangeiras para intervir nos assuntos da cidade.
O documento entrou em vigor em 30 de junho, após repetidas advertências do Governo de Pequim contra a dissidência em Hong Kong, abalado em 2019 por sete meses de manifestações em defesa de reformas democráticas e quase sempre marcadas por confrontos com a polícia, que levaram à detenção de mais de nove mil pessoas.