Todos os anos, a Austrália enfrenta incêndios florestais no final do inverno austral, mas no ano passado, os fogos foram excecionalmente graves, durando nove meses, até março.
O Estado de Nova Gales do Sul foi o mais afetado, com 11.000 incêndios que destruíram 55.000 quilómetros quadrados, uma área equivalente a mais de metade de Portugal.
Depois de meses de audiências, o governo de Nova Gales do Sul divulgou hoje um relatório de 436 páginas sobre a crise que destruiu mais de 2.400 casas em todo o Estado e matou 26 pessoas.
Além de dezenas de recomendações para prevenir um desastre semelhante no futuro, este inquérito constitui um revés para aqueles que na Austrália continuam a alegar que os incêndios não têm uma conexão com o aquecimento global.
"O aquecimento global resultante do aumento das emissões de gases de efeito estufa claramente desempenhou um papel nas condições que deram origem aos incêndios e nas condições que os mantiveram e permitiram que se propagassem", afirma o documento.
O mesmo reconhece, porém, que é impossível determinar o papel preciso do aquecimento global no complexo 'cocktail' de condições climáticas que alimentaram os fogos.
O relatório cita, particularmente, uma seca que dura há anos, ventos muito fortes, tempestades e baixa humidade.
Embora reconheçam que "o aquecimento global não explica tudo o que aconteceu", os autores observam que as condições catastróficas "foram consistentes com as projeções que se fazem devido ao aquecimento global".
"É provável que os incêndios extremos sejam mais frequentes", pode ler-se ainda.
O documento também põe de lado as afirmações daqueles que se opõem a qualquer ação vinculativa contra o aquecimento global -- incluindo parte do governo conservador -- que afirmam que os incêndios foram obra de incendiários, ou estavam ligados à falta de manutenção.
O relatório diz que as investigações atribuíram apenas 11 incêndios em Nova Gales do Sul a incendiários. A maioria dos grandes incêndios foi causada por quedas de raios em áreas rurais remotas.
Uma comissão nacional de inquérito sobre incêndios deve também apresentar as suas conclusões em breve.